Pedro Pereira está emprestado pelo Benfica ao Bristol City Direitos Reservados

Pedro Pereira. "A Championship é um campeonato muito competitivo"

Entrevista a Pedro Pereira, jogador do Bristol City, da Championship, à RTP.

Pedro Pereira teve esta temporada a estreia em Inglaterra. Na segunda divisão, o jogador de apenas 22 anos, leva perto de 20 partidas e conseguiu os primeiros golos. Está emprestado pelo Benfica mas o primeiro grande palco no futebol profissional em Itália, na Sampdória. O lateral explicou as diferenças entre o futebol italiano, inglês e português e revelou os jogadores que mais o marcaram na Serie A.

1 – Como está a correr a tua experiência em Inglaterra e com o futebol inglês?

Pedro Pereira:
Está a correr bastante bem. Acho que está a ser uma experiência enriquecedora e acho que foi escolha certa, sinceramente. Precisava de jogar, é um campeonato muito competitivo e sinto que me têm ajudado bastante a evoluir e melhorar.

2 – A Championship é uma das ligas mais competitivas da Europa. Como é jogador numa liga tão competitiva apesar de ser uma II divisão?

PP: Acho que é realmente isso, é uma liga competitiva. Todos os jogos são muito complicados, seja contra os clubes mais acima na tabela, seja os que estão mais abaixo, são sempre jogos muito difíceis, são sempre jogos muito diferentes. Há muita diversidade de equipas e de estilo de jogo aqui na Championship, há equipas que procuram mais a bola, há equipas mais físicas, outras com um jogo mais direto e tornam-se jogos muito difíceis e todos eles muito intensos e exigem muito fisicamente dos jogadores.

Foto: Direitos Reservados

3 – Em comparação com o futebol português e italiano, como descreves o inglês?

PP: O inglês é, sem dúvida um futebol muito mais físico, e tanto a nível de treinos e de preparação para os jogos eles levam isso mesmo muito a sério. Sinto que pode não ter tanta qualidade técnica como há em Portugal e não ser tão tático e estudado como é em Itália mas sem dúvida que é o mais intenso e fisicamente mais exigente.

4 – Já tens quase 20 partidas disputadas esta temporada. É um número que corresponde às tuas expectativas?

PP: Sim. O meu objetivo quando vim para aqui era conseguir jogar o máximo de jogos possível. É claro que queremos jogar mais do que aquilo que já jogámos, o objetivo é sempre jogar o máximo de jogos mas entendo que é um processo e que faz parte da fase de crescimento saber lidar com momentos em que não estamos a jogar e alguns momentos assim um pouco mais complicados e dar a volta por cima, esperar pela oportunidade e saber agarrá-la.

5 – Entretanto, marcaste os primeiros golos como jogador profissional. Como te sentiste ao conseguir esse momento?

PP: Era uma coisa que realmente andava à procura há bastante tempo. Os dois golos foram em situações de bola parada e sinto que ao crescer na formação do Benfica, sempre me falaram muito do quão importante isso era, e às vezes não ligávamos muito porque tínhamos muita bola e não ligávamos a essas situações. Mas desde que vim para Inglaterra notei a importância que dão a esses momentos e à oportunidade que conseguem criar para marcar golos a partir de bolas paradas. Simplesmente ataquei bem o espaço nessas duas ocasiões e conseguir chegar lá primeiro que os outros e marcar golo.

Foto: Direitos Reservados

6 – Para o que resta da temporada, quais são os teus objetivos?

PP: Pessoalmente é continuar a jogar, continuar focado e a melhorar e evoluir como jogador, seja fisicamente, seja em todos os outros aspetos do jogo, conseguir continuar a preparar-me para o futuro e coletivamente é conseguir o objetivo. No início da época eram os dois primeiros lugares, neste momento já se está um pouco distante. É chegar à zona dos play-offs e lutar pela subida à Premier League.

7 – Como é que viste a chegada do Bruno Fernandes a Inglaterra e ao futebol inglês?

PP: Já sabia que era um grande desejo dele e sabendo o clube que é, acho que está a ser um momento alto da carreira e a chegada dele aqui em Inglaterra acho que foi vista no início com alguma desconfiança porque ele vinha do campeonato português e respeitam aqui os clubes grandes mas não respeitam assim tanto o campeonato português por acharem que é um campeonato pouco competitivo e disseram que ele se calhar ia precisar de algum tempo de adaptação mas acho que ele provou a toda a gente que estava mais do que pronto e tem mostrado isso em todos os jogos.
Itália, Sampdoria e o Génova
8 – Saíste muito cedo da formação do Benfica e foste jogar para a Sampdoria. Porque tomaste essa decisão tão cedo de sair de um clube onde estavas confortável para ir para um campeonato que nem sempre é fácil?

PP: O que na altura me motivou bastante foi poder integrar o plantel principal da Sampdoria e na altura sentia-me pronto, sentia que realmente podia ter sucesso e graça a deus tudo correu bem. Acho que foi essa a principal razão pela mudança e chegada a Itália foi um pouco difícil. É um campeonato bastante diferente, muito tático, estudam tudo aos pormenores, levam tudo muito a sério: o posicionamento do corpo, o posicionamento do campo, a importância da comunicação e no início adaptar-me a isso foi um pouco complicado porque não estava muito habituado mas tudo correu bem e passados uns meses estava a jogar.

9 – Quais foram os momentos que mais te marcaram na Sampdoria?

PP:
Lembro-me que os primeiros seis meses foram espetaculares. O treinador, o Walter Zenga, acreditou muito em mim e deu-me muita confiança desde o princípio e claro que um dos momentos mais marcantes foi a estreia contra o Bolonha. Entrar em campo e sentir o realizar de um sonho, estava a jogar numa das principais ligas europeias e passados uns quantos jogos, joguei contra o Inter [de Milão] e contra a AS Roma, como titular, fizemos um grande jogo e pessoalmente também fiz um grande jogo e contra o Inter conseguir fazer a assistência também foi um dos momentos que marcou e senti-me super-feliz e realizado.

Foto: Reuters

10 – Defrontaste grandes jogadores, quais foram aqueles que te ficaram mais na memória?

PP: Claro que houve jogadores que me ficaram na memória, na altura, lembrava-me de jogar com eles na playstation e passados uns meses estava a jogar contra eles dentro de campo. Lembro-me bastante bem da primeira vez que vi, por exemplo, o Nainggolan, aquele aspeto dele muito agressivo, realmente foi um jogador que me marcou bastante. O Dzeko, da AS Roma, também me marcou e jogar contra jogadores assim (foram tantos) foi o realizar de um sonho.

11 – Regressaste ao Benfica mas ainda tiveste uma passagem pelo Génova. Como foi a tua segunda passagem por Itália?

PP: Foi um pouco complicado ao início porque tinha um carinho enorme (tinha e tenho) à Sampdoria e jogar no rival foi uma decisão difícil mas não estava numa situação fácil no Benfica, estava sem jogar, e para a minha carreira sentia que tinha de ser, era a melhor oportunidade e possibilidade que tinha de voltar a jogar a alto nível, por isso, no início foi uma decisão difícil mas que depois valeu a pena. Fui muito bem recebido, é um clube enorme, com uma história enorme e que me ajudou bastante a voltar jogar ao mais alto nível.

12 – Ninguém te criou problemas pelo facto de teres representado a Sampdoria e depois teres jogado pelo Génova?

PP: Sim, no início com os adeptos era complicado. Os da Sampdoria ficaram bastante magoados pois tinham um carinho grande por mim, e os do Génova por ter um jogador que tinha estado no outro clube também não era assim tão agradável. No princípio houve alguma confusão, nas redes sociais, mas depois passou e temos de saber lidar com isso, faz parte do nosso trabalho.

Foto: Reuters

13 – Tens vontade alguma vez regressar à Série A?

PP: Claro que sim, é um campeonato que eu aprecio bastante, onde se aprende bastante e eu sinto que é um campeonato muito importante e [Itália] é um país espetacular. Gostei muito de estar lá, gosto da língua, gosto do estilo de vida e principalmente da maneira como vivem o futebol. O futebol para eles é muito importante e por isso, sem dúvida, que um dia gostaria muito de voltar a Itália.
O regresso ao Benfica
14 – Porquê a decisão de voltar ao clube de partida?

PP: A partir do momento em que apareceu essa possibilidade foi sempre a minha primeira escolha, tinha outras ofertas, tinha outros clubes interessados mas a partir do momento em que soube que havia oportunidade de regressar ao Benfica que sempre demonstrei o meu interesse e para realizar aquele sonho que trazia desde menino. Desde os nove, dez anos, desde que cheguei que o meu sonho era chegar à equipa principal do Benfica e ter essa oportunidade era aquilo que eu mais queria.

15 – O que correu menos bem para não te conseguires impor na equipa principal?


PP:
Acho que no momento em que voltei ao Benfica estava a fazer bastantes jogos em Itália e passar a não fazer jogos e lidar com pressão à volta do clube foi onde estive menos bem. Não soube lidar com essa pressão, não soube lidar com as expectativas que estavam à minha volta e acho que tudo isso que estava no exterior e não fazia parte do futebol tomar conta de mim. Mentalmente não soube estar à altura e corresponder às oportunidades quando as tive e tenho pena porque era um sonho enorme e as coisas não correram da melhor maneira. Às vezes essas coisas têm de acontecer para nós crescermos e para sabermos dar valor às oportunidades. Da próxima vez que as tivermos temos de as agarrar.

16 – Achas que o Rui Vitória te deu uma oportunidade justa para te impores no plantel principal do Benfica?

PP: Quando um jogador vai para um clube tão grande, todos os jogadores que estão naquele plantel têm imensa qualidade. Na minha posição, lembro-me na altura, jogava o Nélson Semedo e só de ter a oportunidade de ver o Nélson nos treinos e a maneira como ele procurava sempre ser melhor, só aquilo era uma mais-valia para mim e poder estar perto de um jogador tão forte para mim já era espetacular. Eu entendia [porque não jogava], na altura o Nélson estava num dos melhores momentos da carreira, era um dos melhores jogadores do Benfica e eu compreendo que o Nélson tinha de jogar sempre. É lógico que gostaria de ter mais oportunidades mas também me cabia a mim para quando a oportunidade chegasse eu estar pronto para ter a minha melhor performance e eu não estive à altura.

Foto: Reuters

17 – E para além de Nélson Semedo que outros jogadores te marcaram no plantel do Benfica?

PP:
O Jonas, sem dúvida. Por toda qualidade que tinha e a maneira como jogava o futebol e estava dentro do futebol. O Pizzi e um dos jogadores que me marcou bastante, já o conhecia, mas que realmente me impressionou pelo à vontade, confiança em si próprio e comunicação que mostrava foi o Rúben Dias. Estive seis meses sem jogar e depois na pré-época o Rúben Dias também veio da equipa principal e a maneira dele estar nos jogos, no treino, aquela presença que ele tem de capitão realmente impressionou-me e sempre soube que mal ele tivesse a oportunidade, ele ia-a agarrar e hoje é um dos pilares da equipa.

18 – Sentiste alguma mágoa por saíres do Benfica e ires para Itália?

PP:
Na altura sentia-me triste, senti que tive o sonho na minha mão e não o consegui agarrar mas tinha perfeita noção de que aquilo que mais precisava era voltar a jogar e acho que às vezes para um jogador jovem estar num clube tão grande e não ter tantos minutos não é benéfico. Acho que precisamos de experiência, precisamos de jogos, às vezes precisamos de errar e não tomar as decisões certas para nos mantermos no caminho certo e alcançarmos todos os nossos objetivos. Às vezes é melhor dar um passo atrás, ou mesmo que seja um passo ao lado, para um Génova, que está num campeonato mais competitivo do que o português e jogar para continuar o nosso crescimento.

19 – Depois de terminares a época no Bristol é teu objetivo regressar ao Benfica?

PP:
O meu objetivo é fazer a melhor época possível e depois analisar o que é que pode acontecer. Neste momento, não sei o que poderá acontecer, estou focado no Bristol, em ajudar e continuar a trabalhar em mim e depois no final da época vamos ver, o que tiver de ser será, e depois temos tempo para decidir e ver o que possa acontecer.

20 – Já representaste a seleção pelas camadas jovens, é um objetivo a longo prazo chegar à equipa principal?


PP:
Sem dúvida. É um sonho e um objetivo que eu tenho. Sei que tenho muito trabalho pela frente e um caminho a percorrer mas acredito que continuando focado, dedicado como sou, e a continuar a aprender e a evoluir, acho que se um dia tiver essa oportunidade, e acredito que possa ter, acho que pode acontecer e eu trabalho muito para isso acontecer.