"Marco histórico". Energia solar ultrapassa carvão pela primeira vez na Europa

por Joana Raposo Santos - RTP
O crescimento da energia solar desde 2019 permitiu à UE evitar o gasto de 59 mil milhões de euros em importações de combustíveis fósseis. Foto: Amit Dave - Reuters

No ano passado, a Europa produziu mais eletricidade a partir do Sol do que do carvão. Para os especialistas, este progresso constitui um "marco" na transição para as energias renováveis. Os dados foram divulgados esta quinta-feira pelo centro de reflexão Ember, segundo o qual os painéis solares produziram 11 por cento da eletricidade da UE em 2024, enquanto as centrais elétricas a carvão produziram dez por cento.

"Trata-se de um marco histórico", afirmou Beatrice Petrovich, coautora do relatório do Ember. "O carvão é a forma mais antiga de produzir eletricidade, mas também a mais suja. A energia solar é a estrela em ascensão".

Outra boa notícia é que a produção de eletricidade a partir do gás fóssil diminuiu pelo quinto ano consecutivo, passando a representar 16 por cento. Em suma, "a produção total de eletricidade a partir de combustíveis fósseis atingiu um mínimo histórico", vinca o Ember no seu relatório sobre a eletricidade na Europa.

"Os combustíveis fósseis estão a perder o seu controlo sobre a energia da UE", explicou Chris Rosslowe, principal autor do documento, à agência France Press.

"No início do Pacto Ecológico Europeu, em 2019, poucos pensavam que a transição energética da UE estaria onde está hoje: a energia eólica e a energia solar estão a relegar o carvão para as margens e a empurrar o gás para o declínio estrutural".

O relatório indica ainda que o forte crescimento da energia solar e a recuperação da energia hidroelétrica aumentaram a quota das energias renováveis para 47 por cento da produção de eletricidade na União Europeia, quando em 2019 o número se fixava em 34 por cento.
Já os combustíveis fósseis caíram para 29 por cento, quando há seis anos representavam 39 por cento, refere o relatório "European Electricity Review".
"O crescimento da energia solar desde 2019 permitiu à UE evitar o gasto de 59 mil milhões de euros em importações de combustíveis fósseis", sublinhou Rosslowe.

"A UE teria, portanto, de gastar esta quantidade de dinheiro em combustíveis fósseis para a produção de eletricidade se a energia eólica e solar não tivessem registado este crescimento durante este período".

"As emissões do setor da eletricidade caíram agora para metade do seu nível máximo, em 2007", acrescentou.

O Ember salienta que estas tendências são generalizadas na Europa. A energia solar está a progredir em todos os países da UE e mais de metade deles já eliminaram o carvão, o combustível fóssil mais poluente, ou reduziram a sua quota-parte para menos de cinco por cento.
“Temos de acelerar os nossos esforços”
O principal autor do relatório alerta, porém, que ainda há muito a fazer. "Temos de acelerar os nossos esforços, nomeadamente no setor da energia eólica", cuja capacidade deverá mais do que duplicar até 2030, advertiu Chris Rosslowe.

O responsável alertou também que o sistema elétrico europeu terá de se tornar mais flexível e, por conseguinte, mais capaz de armazenar energia, de modo a tirar o máximo partido das renováveis.

A abundância de energia solar em 2024 contribuiu para fazer baixar os preços, provocando por vezes "preços negativos" durante as horas em que a eletricidade é vendida nos mercados a valores inferiores a zero devido a uma oferta excessiva em relação à procura.

Segundo o Ember, estas diferenças de preços podem permitir aos consumidores reduzir as suas faturas se a procura puder ser transferida para períodos de produção solar abundante.

Os fornecedores de eletricidade poderiam, por sua vez, armazenar a eletricidade produzida durante os períodos de pico e distribuí-la quando a procura aumentasse novamente, como ao final do dia.

"Precisamos agora de mais flexibilidade para garantir que o sistema energético se adapta às novas realidades: mais armazenamento e mais eletrificação inteligente no aquecimento, nos transportes e na indústria", considerou Walburga Hemetsberger, CEO da associação fotovoltaica europeia Solar Power Europe, citada pelo Ember.

c/ agências
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