Mundial: "Portugal é sempre candidato a vencer uma prova"

por Inês Geraldo - RTP
Carlos Daniel e Fernando Santos em entrevista RTP

O selecionador nacional diz que Portugal é candidato a vencer o Mundial 2018. Em entrevista em exclusivo à RTP, Fernando Santos recordou o grande triunfo português sobre França na final de Saint-Dennis.

Um ano depois do maior feito de sempre do futebol português, Fernando Santos relembrou a jornada que levou à conquista do Campeonato Europeu de 2016. O técnico português explicou que ainda hoje são muitos os portugueses que abordam e agradecem a vitória conseguida na capital francesa.


E explicou que o ponto mais alto da estadia em França foi o apoio dos portugueses em Marcoussis.

“Em termos de imagem foi o tempo que passamos em Marcoussis. Aquilo que não se vê, o que se passa nos bastidores que nos vai marcando no dia-a-dia. A forte comunhão de ideias e de grupo que se viveu durante 50 dias e isso é algo que me deixa sempre marcado”, disse o selecionador nacional.
“Percebi que havia muito mais que um grupo de jogadores que se reunia. Eu sou o líder e mais do que as palestras foi importante o trabalho de corredor”.
O treinador da equipa portuguesa diz que houve um processo contínuo que permitiu ligar um grupo de jogadores a um estatuto de família. Fernando Santos afirmou que não foi fácil fazê-lo, já que na Seleção os jogadores passam menos tempo.

Para Fernando Santos o ponto fulcral na grande comunhão do grupo prendeu-se com o facto de o técnico se ter dado a conhecer, tanto pessoal, como profissionalmente e que mais do que palestras, foram as “conversas de corredor” que permitiram à aproximação do grupo de jogadores que convocou para o Europeu.
Substituir o “eu” pelo grupo
Respondendo às questões da RTP, Fernando Santos explicou que o primeiro objetivo foi criar uma equipa de clube, para ter mais estabilidade e criar um sentimento de união, “apesar de não vivermos sempre juntos”.

“Quis substituir o “eu” pelo “nós”, dei uma mensagem de grande confiança”.


Foto: Reuters

Passar a mensagem de que o objetivo da equipa era chegar à final de Saint-Dennis foi algo que Fernando Santos transmitiu de imediato, logo depois de ter sido derrotado no primeiro amigável que disputou no comando técnico português. Num jogo frente à França, precisamente em Saint-Dennis.

Para o técnico português, a espiral de confiança na equipa começou na Dinamarca, logo depois de um início desastroso na qualificação para o Europeu, com uma derrota caseira com a Albânia.

Num triunfo “arrancado a ferros” com um golo de Cristiano Ronaldo já nos descontos, Fernando Santos explicou que foi a partir daí, em Copenhaga, que a equipa portuguesa começou a aceitar a noção de união. “Foi um sentimento em crescendo”.
Crença da vitória em França
Depois de uma fase de grupos que se pode adjetivar de desapontante, após três empates em três jogos, Fernando Santos explicou que o grande sentimento de que a equipa portuguesa podia fazer história começou com o empate frente à Hungria.


Foto: Reuters

O engenheiro disse que passou sempre uma mensagem positiva e de grande confiança para o grupo.

“Se conseguirmos mudar o chip, nós temos todas as hipóteses de vencer este campeonato da Europa. Nós não somos favoritos, nem os melhores do mundo, não temos de ter essa veleidade. Mas temos confiança de que nos podemos bater com qualquer equipa do mundo para ganhar. E vai ser muito difícil ganhar a Portugal”, disse convictamente Fernando Santos.

Antes de treinar a Seleção Portuguesa, Fernando Santos teve uma experiência no comando técnico da Grécia, onde conseguiu o melhor resultado de sempre da seleção grega num Mundial [em 2014], e explicou que os conhecimentos adquiridos por terras helénicas foram providenciais quando começou a treinar Portugal.

“Ensinou-me que estas provas [de seleções] se ganham com pragmatismo. A Alemanha foi sempre campeã nesse aspeto”.
Estilo de jogo espetacular
Questionado sobre se Portugal joga um bom futebol, Fernando Santos é perentório: “Portugal joga bem”.
E diz que o continua a fazer ainda hoje, apesar de algumas coisas terem sido mudadas com o tempo. “Quero melhorar a minha equipa sempre”.

E abordou a espetacularidade no futebol com pragmatismo. O técnico acredita que é bom que se jogue de forma espetacular mas diz que se o fizer sem saber defender, de pouco vale um futebol de espetáculo.“Jogar bem algumas vezes é jogar feio”, declarou o técnico português.

O treinador esclarece que entre ser espetacular e ganhar, prefere sempre a vitória. E falou ainda dos talentos emergentes na equipa portuguesa que trazem novas componentes à tática de Portugal e que permitem abordar as partidas de forma crescente.

“O treinador tem a obrigação de juntar jogadores que mantenham o equilíbrio da equipa”.
Equipa portuguesa com nova tática
Fernando Santos falou da equipa que montou para atacar a qualificação para o Mundial 2018. O técnico português foi claro ao dizer que em Portugal não existem jogadores indiscutíveis, sem ser Cristiano Ronaldo.

Questionado sobre se a Seleção nos próximos tempos vai beneficiar da utilização de dois avançados, acompanhados da qualidade de Gelson Martins e Bernardo Silva, Fernando Santos acredita que sim. “Desde que um dos avançados possa, em certos momentos do jogo, dar equilíbrio à equipa, o que o Nani fez muito bem no campeonato da Europa”.


Foto: Reuters

E explicou que André Silva é o avançado que fazia falta à Seleção Nacional para jogar com Cristiano Ronaldo em muitos momentos do jogo.
A ausência de Éder da Taça das Confederações
Uma das grandes polémicas aquando do anúncio da convocatória portuguesa para a Taça das Confederações foi a saída de Éder do grupo de escolhidos de Fernando Santos. O treinador português admitiu que lhe custou deixar o avançado de fora.

“Custou-me bastante emocionalmente mas tive de ser racional. Tive de fazer uma opção. Havia várias opções. Não sabia que ia perder o João Mário, se não poderia ter tomado outras opções”.


Foto: Reuters

O técnico português revelou ainda que a decisão de não levar Éder foi ponderada, até porque o avançado era preciso para muitos momentos do jogo. “Éder não é titular indiscutível da equipa mas tinha a importância de nos trazer algo mais em alguns momentos do jogo, principalmente capacidade de choque, ocupação do espaço aéreo e fixação de defesas e custou-me muito”.

No entanto, o treinador reafirma a sua escolha: “Tinha uma aposta clara em André Silva. Falei com o Éder [depois da convocatória] e ele percebeu”.
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