Plano contra violência no futebol "em andamento"

por Mário Aleixo - RTP
O secretário de Estado da Juventude e do Desporto (SEDJ), João Paulo Rebelo, assegura que o plano contra a violência no futebol "está em andamento" Lusa

O Governo considera que o plano contra a violência no desporto, em particular no futebol, "está em andamento", e mostra-se satisfeito por ter conseguido juntar à mesma mesa várias estruturas da modalidade.

"Acho que não há melhor maneira de fazer as coisas do que chamar os responsáveis e juntá-los em torno de um denominador comum, que é erradicar o fenómeno da violência", disse o secretário de Estado da Juventude e do Desporto (SEDJ), João Paulo Rebelo.

Em 10 de abril, poucos dias depois de um árbitro ter sido agredido por um futebolista num jogo da divisão de Elite do Porto, João Paulo Rebelo juntou representantes da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), da Liga de clubes, do sindicato dos jogadores, das associações de árbitros e de treinadores, pedindo-lhes contributos para erradicar a violência no desporto.

João Paulo Rebelo considera que as medidas contra a violência começam a "surgir paulatinamente", e deu como exemplo a recente decisão da FPF de introduzir na próxima época o vídeo-árbitro em todos os jogos da I liga.

O SEJD destacou também a disponibilidade do organismo federativo para rever o quadro disciplinar e a postura da secretária de Estado da Administração Interna, que "pediu contributos aos parceiros de segurança para eventuais alterações no quadro das sanções penais".

No que se refere "aos grupos de adeptos organizados, vulgarmente chamados de claques", João Paulo rebelo classificou-os como "agentes desportivos" sob os quais o estado tem "um papel regulatório", mas considerou que nesse domínio o papel mais importante é dos clubes.

O mês de abril ficou marcado por vários episódios de violência em torno do futebol, o mais grave dos quais o atropelamento mortal de um adepto do Sporting, de nacionalidade italiana, na sequência de confrontos entre claques, ocorridos junto ao Estádio da Luz, na véspera do Sporting-Benfica (1-1), da 30ª jornada da I liga.

Luciano Gonçalves não exclui castigos duros

O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), Luciano Gonçalves, defendeu um "endurecimento" das medidas punitivas caso a "boa vontade" dos dirigentes seja insuficiente para pacificar a modalidade.

"Acima de tudo, deve existir vontade dos dirigentes, de todos os intervenientes, em alterarmos este paradigma. Serei sempre defensor da prevenção, mas se não existir boa vontade e tiver de ser por repressão, então devemos ter castigos mais penalizadores. Ou fazermos com que os que existem sejam mesmo postos em prática, já que por vezes isso não acontece", criticou.

Convicto de que o presente momento é insustentável, o dirigente considerou fundamental que o Governo e os tribunais tomem "medidas mais penalizadoras" para determinados comportamentos, como os que já resultaram em agressões a árbitros em pleno relvado.

"(Nestes casos) Não é possível as forças policiais assistirem a uma agressão e não deterem logo o agressor. Falamos de crime público. Não podemos ter penas tão banais. Devia haver um endurecimento de penas neste aspeto. O Governo poderá dar um contributo muito importante nesse sentido", vincou.

O dirigente assumiu, no entanto, que os árbitros não estão isentos de responsabilidades do atual momento de crispação na modalidade, pelo que devem assumir uma postura "de humildade e aceitar a crítica construtiva".

"A arbitragem não pode ficar fora disto e deve estar preparada para a crítica. Se se critica um treinador pelas opções táticas, também se pode criticar com o árbitro pelos seus falhanços. Mas não podemos aceitar comportamentos diferentes. Não pomos em causa a integridade dos jogadores e treinadores quando falham da forma como se coloca causa a integridade, honestidade e honorabilidade dos árbitros. Crítica sim, pôr em causa e levantar suspeitas não. Ao longo dos anos, isso não tem trazido nada de bom ao futebol", alertou.

A época está numa fase final, com decisões quanto ao título, descidas e qualificação para as provas europeias, mas Luciano Gonçalves disse acreditar que a "educação e elevação" vão prevalecer entre os agentes desportivos.

Joaquim Evangelista responsabiliza Benfica, FC Porto e Sporting

O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, responsabilizou os clubes “grandes” pela "insustentável" crispação na modalidade, lamentando a "ausência de uma liderança forte superior" que os acalme.

"Acho que os três `grandes` têm uma responsabilidade especial. Os dirigentes, por omissão ou ação, têm sido os principais responsáveis porque através do seu exemplo podiam, muitas das vezes, ajudar a minimizar os danos. Podiam convocar os adeptos para outro tipo de atitude, mas, infelizmente, o desporto está associado a resultados e isso obviamente traduz-se muitas vezes em constrangimentos para os próprios", criticou.

O presidente do SJPF realçou a inexistência de fortes lideranças, tanto na política como no desporto: "Se não tivermos liderança, alguém que dê o exemplo, com mais autoridade moral, institucional, no plano desportivo ou politico, obviamente que também é difícil fazer a diferença".

Joaquim Evangelista defendeu que o melhor caminho para a pacificação não passa pelas sugestões avulsas de vários dirigentes, quanto a regras ou medidas punitivas, mas sim por um acordo pela globalidade dos agentes desportivos.

"Ninguém consegue mudar nada sozinho. É impossível alguém por si só mudar um problema que está enraizado. É preciso ter capacidade mobilizadora, dialogar. Pluralismo também do ponto de vista da ação. Uma concertação social de interesses desportivos. Dirigentes, jogadores, treinadores, árbitros, principais organizações. partilhar e consensualizar as ideias. Se cada um apresentar as suas, não há verdadeira discussão. Cada um a apregoar as suas virtudes não é um bom caminho", censura.
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