A entrada em funções da nova Comissão Europeia deverá facilitar a política de reaproximação do Reino Unido à União Europeia (UE) pelo governo trabalhista do primeiro-ministro Keir Starmer, afirmaram hoje analistas.
Num debate organizado hoje pelo centro de estudos britânico UK in a Changing Europe (UKICE), Jannike Wachowiak justificou o atraso nos contactos oficiais entre Londres e Bruxelas com o calendário político, pois o novo governo trabalhista foi eleito em julho, pouco depois das eleições para o Parlamento Europeu, em junho.
"Isto implicou que o governo britânico não teve um interlocutor em Bruxelas", afirmou Wachowiak, durante o debate intitulado "Poderá o Partido Trabalhista redefinir a relação do Reino Unido com a UE?".
No entanto, a analista acrescentou que não se esperam "grandes mudanças substantivas a curto ou médio prazo porque o Acordo de Comércio e Cooperação (ACC) vai continuar a ser a base da relação e ambos os lados têm outras prioridades".
"Não espero mudanças rápidas, mas um processo mais gradual", vincou.
Dias depois de ser eleito, em julho, Keir Starmer manifestou o desejo de se reaproximar da Europa e colaborar em matéria de segurança e no combate à imigração ilegal, ao receber os líderes europeus para a reunião da Comunidade Política Europeia perto de Oxford.
Depois disso, durante o verão visitou Paris, Berlim, Dublin e Roma para contactos com os respetivos dirigentes.
Jill Rutter, também analista do UKICE, afirmou que "há uma diferença na abordagem" deste governo em relação ao anterior, mas o colega Joël Reland diz que as diferenças são pouco substantivas.
"As principais diferenças são que este governo está disposto não só a não divergir, mas a adicionar alguns elementos ao ACC, contudo ainda são limitados e mantêm o Reino Unido fora da união aduaneira e do mercado único", vincou este analista.
Para Reland, vai ser importante o primeiro encontro de Keir Starmer com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cuja data continua incerta.
"Ter relações políticas fortes ajuda a avançar a relação comercial. A questão é se [a aproximação] se fica por acordo de segurança restrito ou se será algo mais amplo, sem objetivos tão tangíveis mas que cobre mais temas", disse.
A presidente da Comissão Europeia apresentou hoje a composição e distribuição das pastas do próximo executivo, o qual só poderá entrar em funções depois de receber o aval dos eurodeputados.
Entretanto, um estudo publicado hoje pela universidade britânica de Aston conclui que o `Brexit` continua a ter um impacto "profundo e contínuo" no comércio do Reino Unido com a UE, porque as exportações e importações de bens continuam a ser afectadas pelas barreiras burocráticas erguidas pela saída do mercado único.
De acordo com os economistas da Universidade de Aston, no centro de Inglaterra, as exportações e importações anuais entre as duas partes são, respetivamente, 17% e 23% inferiores ao que seriam na ausência do Brexit.
"Os resultados revelam um declínio acentuado tanto nas exportações como nas importações do Reino Unido com a UE, sublinhando os desafios duradouros colocados pelo Brexit à competitividade comercial do Reino Unido", acrescenta a análise divulgada na terça-feira.