O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, manifestou hoje a sua consternação pela morte de pelo menos 100 pessoas num ataque do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF) no centro do Sudão.
"Estou profundamente chocado, mais uma vez, com os relatos de um massacre brutal de civis na aldeia sudanesa de Wad Al Noura, no estado de al-Jazira", afirmou Türk num comunicado.
O Alto Comissário indicou também que estes assassinatos sugerem que os princípios da distinção, da proporcionalidade e da precaução estão a ser violados pelas partes beligerantes no conflito sudanês.
A União Africana (UA) também condenou hoje o ataque, com o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki, a instar "a comunidade internacional a pôr fim de uma vez por todas" à guerra no Sudão.
Faki declarou estar "alarmado" com o facto de "a situação neste país continuar a deteriorar-se e estar a conduzir a uma fome aguda".
O presidente da comissão apelou ainda às partes que "ponham um fim incondicional aos combates e facilitem o acesso humanitário sem entraves à população necessitada".
De acordo com as agências da ONU, cerca de 18 milhões de pessoas no Sudão sofrem de fome e 3,6 milhões de crianças de desnutrição aguda.
A União Europeia (UE) reagiu hoje em choque às "informações credíveis de mais um massacre sem sentido", alegadamente cometido pelas RSF.
Em comunicado, o Alto-Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, alegou que a UE está a tentar monitorizar a situação no Sudão, em cooperação com as Nações Unidas, para identificar violações dos direitos humanos no último ano "para assegurar que os responsáveis por estes crimes são totalmente responsabilizados".
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reagiu quinta-feira ao ataque, reiterando o seu apelo ao "silenciamento das armas em todo o Sudão e ao empenhamento numa paz duradoura".
O Comité de Resistência - uma organização de cidadãos encarregada de contabilizar as vítimas e os deslocados - da região afirmou na quarta-feira que o grupo paramilitar RSF bombardeou Wad al Nura com armas pesadas "durante horas" e depois invadiram a aldeia em veículos de combate e motos, de onde "dispararam indiscriminadamente contra os cidadãos".
O balanço preliminar, disse o comité, é de pelo menos 104 mortos e mais de 90 feridos.
Em resposta às acusações, as RSF confirmaram na quinta-feira que estiveram em confrontos com uma "força conjunta do exército sudanês", dos serviços secretos e de uma brigada do partido islamita Congresso Nacional - ao qual estão filiados vários elementos das forças armadas - em três quartéis diferentes em Wad al Nura.
"A batalha durou mais de duas horas e o inimigo utilizou todo o tipo de armas pesadas e ligeiras", declararam as RSF, que acrescentaram ainda que oito combatentes morreram nos confrontos.
Todavia, os paramilitares declararam estar surpreendidos com as acusações de terem matado mais de 100 civis, e negaram tais atos.
Uma atualização da Organização Internacional para as Migrações (OIM), divulgada quinta-feira, indica que já são quase dez milhões as pessoas deslocadas devido à guerra, naquela que é já considerada a pior crise de deslocação interna do mundo.
A agência das Nações Unidas dá conta de que há 9,9 milhões de pessoas deslocadas em 18 estados do país, incluindo 7,1 milhões desde o início do conflito e 2,8 milhões deslocados anteriormente. Mais de metade destas pessoas são mulheres e mais de um quarto são crianças com menos de cinco anos.