As eleições legislativas antecipadas, agendadas para os próximos dois domingos, colocam em competição três grandes blocos com diferentes posições sobre os temas internacionais que marcam a atualidade, nomeadamente o conflito na Ucrânia e a guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.
Vão a votos a Nova Frente Popular (NFP) - uma aliança de esquerda constítuida pela France Insoumise (LFI), o Partido Socialista, os Ecologistas e o Partido Comunista -,
o partido de centro-direita Ensemble, que inclui o Renascença - do presidente Emmanuel Macron e do primeiro-ministro Gabriel Attal - o movimento Horizontes de Édouard Phillipe e o Modem de François Bayrou e
o partido de extrema-direita Rassemblement National (RN) de Jordan Bardella e Marine Le Pen, com o apoio do presidente dos Republicanos, Éric Ciotti, contestado pelo seu partido que também vai a votos.
A guerra na Ucrânia
O conflito na Ucrânia desde a invasão pela Rússia, a 24 de fevereiro de 2022, continua a dividir a esfera política francesa. Se a condenação do ataque de Moscovo a Kiev foi unânime desde o início, os meios que devem ser mobilizados para reforçar o apoio à Ucrânia e encontrar um caminho para a paz têm estado no centro do debate político.
Sobretudo desde as declarações polémicas do presidente francês, Emmanuel Macron, que admitiu pela primeira vez no início deste ano não excluir o envio de tropas ocidentais para lutar no terreno contra a Rússia.
A guerra na Ucrânia esteve em destaque no último debate televisivo como conta o correspondente da RTP em Paris, José Manuel Rosendo
Nova Frente Popular
No seu
programa,
a nova aliança de esquerda apela à defesa da Ucrânia e da paz no continente europeu, assim como à "soberania e liberdade do povo ucraniano e integridade das suas fronteiras",
através do fornecimento das "armas necessárias". Para
travar a "guerra de agressão de Vladimir Putin", propõe a anulação da dívida externa, o confisco de bens dos oligarcas russos que "contribuem para o esforço de guerra" e o envio dos "Capacetes Azuis (forças da ONU) para proteger as centrais nucleares" na Ucrânia e "trabalhar para a paz" como mediador.
Ensemble pour la République
Já o partido do presidente e do primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, quer manter a linha traçada no último ano que reforça a posição de apoio da França à Ucrânia, nomedamente através do envio de aviões, armas e mísseis. Não excluindo o envio de instrutores franceses para a Ucrânia para treinar as forças ucranianas.
Rassemblement National
O partido de extrema-direita defende a manutenção do apoio à Ucrânia, com exceção do envio de mísseis de longo alcance, para "evitar qualquer risco de escalada". O presidente do partido, Jordan Bardella, defendeu na apresentação do programa o envio do apoio logístico e defensivo a Kiev, mas recusa-se a "enviar tropas" ou a fornecer equipamento militar que "poderia ter as consequências de uma escalada" ao atingir "diretamente cidades russas".
A guerra Israel-Hamas e o reconhecimento da Palestina
O conflito entre Israel e o grupo islamita palestiniano, Hamas, na Faixa de Gaza tornou-se um tema central durante a campanha eleitoral para as europeias e continua a estar presente no discurso e nos programas políticos para as legislativas. Desde o início da guerra no enclave palestiniano que o povo francês se tem manifestado em numerosas ações de protesto.
Que papel deve ter a França neste conflito, deverá apoiar Israel, reconhecer um Estado palestiniano, ou classificar o ataque ao povo palestiniano como um genocídio?
Nova Frente Popular
A coligação de esquerda apela a um "cessar-fogo imediato " em Gaza e indica uma série de medidas para a paz, incluindo a necessidade de libertar os reféns detidos pelo Hamas. No seu programa, a Nova Frente Popula pretende "romper com o apoio culposo" da França ao Governo israelita de Benjamin Netanyahu e decretar um embargo ao fornecimento de armas a Israel.
Na sequência dos mandados de captura emitidos pelo procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), em maio, apoiam a ação do TPI na sua ação penal tanto contra os dirigentes do Hamas como do executivo israelitas. Os partidos de esquerda defendem também o "reconhecimento imediato" do Estado palestiniano "ao lado do Estado de Israel".
Ensemble pour la République
A coligação presidencial apela a um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza e à livre circulação da ajuda humanitária no enclave. Não apoia de imediato o reconhecimento de um Estado palestiniano, porque considera que "as condições não são adequadas".
Rassemblement National
No extremo oposto, o partido de Marine Le Pen apoia incondicionalmente a operação militar de Israel em Gaza, por considerar que é uma "resposta absolutamente legítima" aos ataques terroristas cometidos pelo Hamas a 7 de outubro.
O partido de extrema-direita opõe-se ao reconhecimento de um Estado palestiniano na "situação atual" porque "seria reconhecer o terrorismo e isso seria conceder legitimidade política a uma organização cuja carta prevê a destruição do Estado de Israel", defendeu o seu líder e candidato a primeiro-ministro, Jordan Bardella, na apresentação do programa.