Geraint Thomas, o discreto braço direito subiu ao Olimpo

por Lusa
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Geraint Thomas (Sky) confirmou hoje o primeiro triunfo numa grande volta, ao chegar de amarelo ao final do Tour, deixando para trás o papel de eterno braço direito de Chris Froome.

À partida para a edição de 2018 da Volta a França, o galês surgia mais uma vez como o principal ajudante de Froome e como um plano B, caso o britânico mostrasse alguma rara debilidade na busca pelo quarto triunfo consecutivo na 'Grand Boucle'.

O plano B tornou-se A e pareceu ser sempre o mais forte corredor da Sky e hoje confirmou que afinal até está talhado para as grandes voltas, mostrando aquilo pelo qual sempre foi conhecido a sua regularidade.

Depois de ter vencido já este ano o Critério do Dauphiné e ter visto o colega Michal Kwiatkowski 'roubar-lhe' a terceira Volta ao Algarve na derradeira etapa, Thomas, que se descreve como um homem organizado e disciplinado, subiu ao lugar mais alto do pódio nos Campos Elísios.

A história do novo campeão da Volta a França no ciclismo começou como qualquer outra. Vibrava com o alemão Jan Ullrich na televisão e, aos dez anos, experimentou um clube velocipédico de crianças de Whitchurch, em Cardiff, onde nasceu a 25 de maio de 1986, e apaixonou-se.

No entanto, como qualquer grande paixão, a sua só se consolidou quando se tornou recíproca. "Suponho que só comecei realmente a acreditar em mim depois de Los Angeles (onde se sagrou campeão mundial júnior de pista na disciplina de scratch). Foi quando vi o ciclismo não como um 'hobby', mas sim como uma possível carreira".

Aos 18 anos, mudou-se para Manchester, para a Academia Olímpica britânica, dividindo quarto com Mark Cavendish. Longe de casa, ganhou experiência, percorreu o mundo e viveu as primeiras agruras como ciclista, quando, em fevereiro de 2005, sofreu uma queda grave em Sydney, na Austrália, e perdeu o baço.

Recuperado do susto e de volta ao seu nível, foi contratado como estagiário pela Saunier Duval, antes de abraçar o profissionalismo na Barloworld, que lhe deu a oportunidade de ser o corredor mais jovem a alinhar à partida do Tour2007 e o primeiro galês a fazê-lo desde 1967.

Com Pequim2008 à espreita, o apelo da pista foi mais forte. Com um título de campeão mundial de perseguição por equipas para defender, dedicou boa parte da temporada a preparar o seu primeiro grande momento olímpico: o ouro na mesma categoria, com direito a recorde mundial e a nomeação como Membro da Ordem do Império Britânico.

O azar voltou a perturbá-lo no início de 2009. Fraturou a pélvis e o nariz numa saída em frente num contrarrelógio e esteve 20 dias sem pedalar, mas, no final da época, sagrou-se campeão britânico individual de perseguição. O título concedeu-lhe um lugar na Sky e embalou-o para a sua melhor temporada até então na estrada, ao vestir durante três dias a camisola da juventude no Tour.

Mas 2010 não acabou como pretendido: uma epidemia de dengue na Índia levou-o a abdicar dos Jogos da Commonwealth. "É uma grande desilusão, porque só posso correr por Gales a cada quatro anos". Galês convicto -- na televisão, gosta de ver os jogos de futebol do Cardiff City e da sua seleção de râguebi -, o homem da Sky teve um 2011 discreto, antes de voltar a centrar-se na pista.

Londres2012 foi o seu momento mais feliz: ouro olímpico na perseguição por equipas, recorde do mundo e os britânicos rendidos aos seus pés. Com o coração dividido entre a estrada e a pista -- a sua prova preferida é a Volta à Flandres, mas os melhores momentos viveu-os nos Jogos -, Thomas decidiu concentrar-se no seu papel na Sky.

Trabalhador incansável, primeiro de Bradley Wiggins, depois de Chris Froome e de Richie Porte, destacou-se no Critério do Dauphiné, em 2013, e no Tour, ao suportar uma fratura na pélvis desde a etapa inaugural para colaborar na vitória final de Froome.

Sempre como trabalhador para outros, Thomas nunca tinha conseguido sequer uma posição no 'top-10' numa grande volta, até hoje.

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