Nem o dilúvio travou a previsível vitória de Jonas Vingegaard n`O Gran Camiño

por Lusa
Brais Lorenzo - EPA

Nem a meteorologia destronou Jonas Vingegaard, com o ciclista dinamarquês da Visma-Lease a Bike a defender com sucesso o título n’O Gran Camiño, após vencer a quarta e última etapa, no alto do Monte Aloia.

Num dia impróprio para a prática de ciclismo, que levou a organização a anular a segunda subida ao alto de primeira categoria, Vingegaard ampliou a sua lenda na prova galega, conquistando-a pelo segundo ano consecutivo, novamente com um pleno de triunfos nas etapas ‘a contar’.

Talvez demasiado ávido de vitórias – ganhou todas as classificações, exceto a da juventude -, o agora bicampeão d’O Gran Camiño não permitiu veleidades a Lenny Martinez (Groupama-FDJ), o único a ousar contrariar o camisola amarela e as condições infernais, contra-atacando o francês para chegar isolado ao alto do Monte Aloia, após 03:27.20 horas debaixo de chuva.

O jovem de 20 anos, que cortou a meta 16 segundos depois do vencedor, viu, contudo, a sua coragem premiada com um salto de três lugares na geral, acabando em segundo, a 01.55 minutos do dinamarquês. O colombiano Egan Bernal (INEOS) conseguiu salvar o pódio e foi terceiro, a distantes 02.11.

Meteorologicamente, a terceira edição d’O Gran Camiño ‘presenteou’ os ciclistas com o pior: depois dos ventos fortes que obrigaram a neutralizar o contrarrelógio da primeira etapa, do frio agónico da segunda (neste caso acompanhado de chuva) e da terceira tiradas, hoje um dilúvio acompanhou o pelotão desde que saiu de Ponteareas para cumprir os previstos 162,2 quilómetros até ao Monte Aloia, todo ele submerso em nevoeiro.

Estavam decorridos 20 quilómetros quando Neilson Powless (EF Education-EasyPost) atacou, provisoriamente na companhia de Wilco Kelderman (Visma-Lease a Bike) e Javier Romo (Movistar), de quem se distanciou pouco depois, insistindo na fuga a solo apesar de não ter mais de 30 segundos sobre o pelotão.

Outros corredores, entre os quais os portugueses Rafael Reis (Sabgal-Anicolor), Joaquim Silva, nono classificado da prova galega em 2023, e Pedro Pinto, ambos da Efapel, tentaram alcançar o norte-americano, missão cumprida com sucesso.

A fuga, que incluía ainda Eric Fagúndez (Burgos-BH), Asier Etxeberria (Euskaltel-Euskadi) e Walter Calzoni (Q36.5 Pro Cycling), colaborou ativamente para conseguir um avanço de três minutos para o pelotão, numa altura em que já era por demais evidente que era imperativo anular a segunda subida ao Monte Aloia, sobretudo pelo perigo da descida (além das curvas traiçoeiras, o vento e a chuva deixaram a estrada suja) que se seguia à primeira passagem pela contagem de montanha de primeira categoria.

O anúncio da organização chegou pouco depois: devido à meteorologia adversa, um eufemismo para aquilo que se viveu hoje naquela montanha do Parque Natural galego, a etapa acabaria aos 130,1 quilómetros.

Nem isso reduziu a dureza da quarta etapa, uma vez que havia sete quilómetros, com 8% de pendente média de inclinação, para subir até ao alto do Monte Aloia, que os resistentes Joaquim Silva, pelo segundo dia consecutivo em fuga, Fagúndez e Calzoni começaram a escalar com 50 segundos de vantagem.

Sem transmissão televisiva – o avião não conseguiu voar -, quase nada se soube do que aconteceu nos derradeiros quilómetros, apenas que os fugitivos foram alcançados num momento indefinido e que Martinez foi o único a ter coragem para contrariar o domínio de Vingegaard, atacando a três quilómetros da meta – foi um digno vice-campeão, pela combatividade hoje demonstrada.

O francês haveria, inevitavelmente, de ser apanhado pelo agora bicampeão d’O Gran Camiño, que o deixou para trás rumo à terceira vitória consecutiva numa edição em que, novamente, só três etapas foram ‘a contar’.

As condições atmosféricas infernais tornaram impossível contar a história de uma tirada em que Bernal segurou o pódio por pouco, ao ser quarto na meta a 48 segundos, secundado por Jefferson Cepeda (Caja Rural), que viu o seu lugar no top 3 fugir-lhe por apenas três segundos, e antecedido por Hugh Carty (EF Education-EasyPost), terceiro na etapa, a 45.

Terceiro no ano passado, o português Ruben Guerreiro (Movistar) foi oitavo nesta edição, a 02.59 minutos de Vingegaard, depois de acabar a última etapa na 11.ª posição, a 01.11 minutos.

Entre os portugueses, destaque ainda para Frederico Figueiredo (Sabgal-Anicolor), hoje 31.º na etapa e melhor representante das equipas nacionais (e também das formações continentais) na geral, na qual ocupou o 33.º posto, a 13.14 minutos do líder da Visma-Lease a Bike.

Vingegaard vai consultar as previsões meteorológicas antes de regressar ao Gran Camiño
Jonas Vingegaard sai satisfeito d’O Gran Camiño, que venceu pelo segundo ano consecutivo com pleno de vitórias em etapas ‘a contar’ para a geral, mas o ciclista dinamarquês promete consultar as previsões meteorológicas antes de decidir voltar.

“Não viram nada?”, espantou-se o bicampeão do Tour, abrigado dentro do camião do pódio, quando os jornalistas revelaram que só tinham visto os últimos 20 metros da subida ao Monte Aloia, numa quarta etapa encurtada devido a umas condições meteorológicas impróprias para ciclistas.

“Bom, foi um dia muito molhado, posso dizer-vos isso. Na última subida, apanhámos os últimos fugitivos e queríamos ir para a vitória da etapa. Até faltarem três quilómetros para a meta, fomos todos juntos. Então, houve alguns ataques e, a determinado momento, foi o momento exato para mim para atacar. Felizmente, ninguém me conseguiu seguir, e a partir daí foi só chegar ao fim”, descreveu o corredor da Visma-Lease a Bike.

Vingegaard assumiu que concordou com a decisão da organização de encurtar a etapa para 130,1 quilómetros, anulando a segunda subida ao Monte Aloia (de primeira categoria), o que evitou uma descida perigosa, numa estrada estreia e suja de detritos arrastados pela chuva e pelo vento.

“Não estava demasiado frio hoje, mas penso que se tivéssemos de descer desde aqui de cima provavelmente teríamos ficado gelados. Também, em alguns momentos, fazia muito vento. Em alguns sítios, parecia que as árvores estavam a meio de cair na estrada, por isso penso que foi a melhor decisão encurtá-la em uma passagem e ainda poder chegar à meta. Claro que é uma pena para a organização que tenha acontecido, porque é o segundo ano consecutivo que têm um tempo terrível”, lamentou.

O dinamarquês de 27 anos sai da Galiza com o segundo triunfo consecutivo na geral, a vitória em todas as classificações, exceto a da juventude, conquistada pelo vice-campeão Lenny Martinez (Groupama-FDJ), e ainda o pleno em etapas ‘a contar’ - o contrarrelógio da primeira etapa foi neutralizado devido aos ventos fortes – tal como aconteceu em 2023.

“Claro que foi agradável vencer três etapas em três. Estou satisfeito com a minha forma e como com a equipa se comportou esta semana. Os rapazes saíram-se muito bem”, pontuou.

O domínio absoluto na prova galega deixa boas indicações para a participação no Tirreno-Adriático, que arranca em 04 de março.

“As pernas estão boas, a forma é boa, penso que estou pronto para o Tirreno. Acima de tudo, é importante não ficar doente agora e não fazer nada estúpido na próxima semana”, acrescentou.

Sem querer antecipar o futuro, Vingegaard escusou-se a revelar se planeia regressar ao Gran Camiño no próximo ano.

“Talvez volte no próximo ano, mas se calhar consulto a previsão meteorológica antes [ri-se]. Teremos de fazer um plano e depois veremos”, concluiu, numa nova demonstração de que cada vez se sente mais descontraído no contacto com os meios de comunicação.


PUB