Sete meses depois das últimas eleições antecipadas, a Região Autónoma da Madeira está novamente numa situação de instabilidade política, uma vez aprovada, na Assembleia Legislativa, a moção de censura ao executivo minoritário de Miguel Albuquerque. O representante da República, Ireneu Barreto, anunciou que vai ouvir todos os partidos com representação parlamentar na quinta-feira e pedir uma audiência ao presidente da República ainda antes do Natal. Cabe a Marcelo Rebelo de Sousa decidir se o parlamento madeirense é ou não dissolvido. Se a decisão passar por chamar novamente os eleitores às urnas, vai ser a terceira vez que o arquipélago irá a votos desde 2023.
Ireneu Barreto pretende receber os partidos - PSD, PS, JPP, Chega, CDS-PP, PAN e IL - na quinta-feira por ordem decrescente de representatividade eleitoral, a partir das 9h30, prevendo terminar a ronda de reuniões pelas 17h00. Caso os partidos defendam eleições regionais antecipadas, o representante da República para a Madeira vai pedir uma audiência a Marcelo Rebelo de Sousa, transmitindo-lhe que "não há hipótese de haver um governo no quadro desta legislatura".Apesar da repetida crise política, o presidente do Governo Regional assegurou que não haverá eleições internas no PSD, considerando que isso beneficiaria a oposição. Para Miguel Albuquerque, a solução passaria por legislativas regionais antecipadas “o mais rapidamente possível”.
Quanto à situação do partido, Albuquerque rejeitou eleições e um congresso extraordinário no PSD/Madeira, justificando que não quer entrar “numa situação de fratura” que só beneficiaria os adversários.
“O governo liderado por Miguel Albuquerque é o exemplo do que não queremos para a Madeira”, disse, sublinhando que “a corrupção se tornou uma sombra permanente que paira sobre este executivo”.
Já o líder do grupo parlamentar do PS e da estrutura regional do partido, o maior da oposição, acusou o Governo Regional e o seu presidente de “mentiras, chantagem e sabotagem”, usando o chumbo do Orçamento da Madeira como instrumento para “tirar dividendos políticos”.
Paulo Cafôfo sublinhou que a região “não vai parar”, apesar de iniciar o ano de 2025 em regime de duodécimos, e, por outro lado, deixou claro que o responsável pela crise política motivada pela moção de censura apresentada pelo Chega não é o PS, mas os elementos do executivo envolvidos em processos judiciais e os partidos que aprovaram o Programa do governo minoritário após as eleições de 26 de maio.
“É importante tomar uma atitude”, afirmou, sublinhando que “o poder está nas mãos das pessoas”.
Pelo JPP, o segundo maior partido da oposição, Rafael Nunes afirmou que o Governo Regional enfrenta uma “crise de credibilidade” e de “instabilidade permanente criada por Miguel Albuquerque e pelo seu PSD”.
Sara Madalena, do CDS-PP, salientou que a moção de censura apresentada pelo Chega se fundamenta “em questões de justiça e de política nacional”, defendendo que o parlamento “não se pode substituir à justiça” e que é necessário “respeitar a presunção da inocência”.
E o deputado único da IL, Nuno Morna, considerou ser incompreensível e lamentável que Assembleia Legislativa, sendo a “casa da autonomia”, se deixe “condicionar” por agendas impostas por Lisboa, alegando também que a moção apresentada pelo Chega ao Governo Regional foi decidida pelo líder nacional do partido, André Ventura.
Miguel Albuquerque é o primeiro presidente de um Governo Regional da Madeira a ver o executivo cair com a aprovação de uma moção de censura, quase dez anos depois de ter chegado ao cargo e após vencer quatro eleições. Ainda assim, pretende recandidatar-se, caso haja novas eleições antecipadas – as terceiras desde 2023.
Mas o ainda presidente do Governo Regional pode ter desafios maiores antes de ser cabeça de lista pelo PSD/Madeira: o antigo secretário do Ambiente e Recursos Naturais da Madeira Manuel António Correia quer a “demissão imediata” do líder do PSD regional, Miguel Albuquerque, e a convocação de eleições internas no partido, às quais pretende candidatar-se também.
“Se o agora demitido presidente do Governo Regional não se demitir da presidência do partido, apresentaremos as assinaturas necessárias para, no termos dos respetivos estatutos, o Conselho Regional [do PSD] poder convocar um congresso regional extraordinário eletivo, possibilitando que os militantes possam escolher um novo presidente do PSD/Madeira e um novo candidato a presidente do Governo Regional”, declarou após anunciada a aprovação da moção de censura.
Segundo o social-democrata, o Governo minoritário do PSD e o próprio partido chegaram a um “ponto limite e insuportável”, pelo que “há que dizer basta”.“Se o PSD/Madeira não realizar eleições internas antes das próximas eleições regionais [antecipadas], daqui a poucos meses a Madeira está com o mesmo problema de instabilidade e ingovernabilidade, acentuando os já graves prejuízos para os seus cidadãos, empresas e instituições”, afirmou.
Já Alberto João Jardim assumiu o apoio a Miguel Albuquerque se este avançar, embora tenha criticado o atual líder do PSD Madeira. Na terça-feira, no 360 da RTP3, o ex-governante regional acrescentou que tudo pode ficar na mesma porque o PSD/Madeira está desunido.
“O PSD, neste momento, está fragmentado em duas partes”, disse Jardim, frisando que se Albuquerque avançar vota nele. “É preciso unir o partido”.
Segundo o antigo líder regional, o PSD/Madeira está “desunido desde 2012” e Miguel Albuquerque “nem une nem deslapa”, por isso mantém-se “esta situação”. Também o primeiro-ministro e líder dos social-democratas falou, na noite de terça-feira, sobre a situação política na Madeira, acusando PS e Chega de promoverem uma "cultura do caos" ao aprovarem em conjunto uma moção de censura contra o Governo Regional. Luís Montenegro considera que os dois partidos foram "longe demais" ao derrubarem o executivo da Região Autónoma.
No jantar de Natal do grupo parlamentar do PSD, Luís Montenegro comentou a crise política na Madeira, considerando que o encontro decorreu no mesmo dia em que o executivo regional caiu na sequência da votação de uma moção de censura, e não poupou críticas aos partidos da oposição que viabilizaram essa mesma moção apresentada pelo Chega. Acusou-os de se "juntarem" para derrubar um executivo da Aliança Democrática e de recorrerem a "argumentos de lana-caprina para deitar abaixo um Governo legitimado”.
"Esta cultura do caos, do impasse, da aliança estratégica do contra, é uma cultura que não faz falta à democracia portuguesa", vincou.
Até àquela hora, Montenegro ainda não tinha falado com o presidente do partido na Madeira, mas garantiu fazê-lo “nos próximos dias” para fazer “uma avaliação política da situação”.