Chamaram-lhe Valeriana, por estar perto de uma lagoa com esse nome.
Não há imagens do complexo mas com recurso à tecnologia LIDAR foi possível descobrir mais de seis mil vestígios de construções onde constam pirâmides semelhantes às de Chichén Itzá e Tikal.
A descoberta aconteceu por acaso explica Luke Auld-Thomas, um estudante de doutoramento na Universidade de Tulane, nos Estados Unidos.
“Eu estava a ler a página 16 de uma investigação do Google e encontrei um levantamento a laser feito por uma organização mexicana para monitorização ambiental, sobre os níveis de carbono nas florestas do México”, explicou.
Ao processar os dados com métodos usados por arqueólogos, Auld-Thomas viu o que terá passado despercebido a outras pessoas.
Identificou 6.764 estruturas, como muros, formas retangulares, estradas a formar uma enorme cidade antiga que pode ter abrigado entre 30 a 50 mil pessoas na época Maia, nos anos 750 a 850 d.C.
Valeriana | Auld-Thomas et al., Antiquity 2024
De acordo com os investigadores, Valeriana tem as “características de uma capital”. Estimam que se terá aproximado, em termos de densidade de edifícios, do sítio de Calakmul, a cerca de 100 quilómetros de distância, considerado o maior sítio maia na antiga América Latina.
Complexo arqueológico de Calakmul, México | Cegalerba - Szwemberg/Hemis AFP
Valeriana está “escondida à vista de todos”, dizem os arqueólogos, pois fica a 15 minutos a pé de uma estrada principal perto de Xpujil, junto à cidade de Campeche, no sudeste do país, disse Auld-Thomas à BBC.
A investigação revela que os dois grandes centros urbanos, com pirâmides, anfiteatros e outros edifícios monumentais separados em cerca de dois quilómetros, estavam ligados por aglomerados de casario e calçadas.
Ao todo, ocupava cerca de 16,6 quilómetros quadrados e localizava-se numa colina perto de uma área ativamente cultivada.
O
estudo, divulgado na publicação académica
Antiquity, revelou ainda áreas rurais e pequenos assentamentos.
Dentro do complexo há um núcleo de estruturas concentradas formando um cercado de moradias domésticas e terraços em áreas de terreno elevado e também uma estrutura de barragem.
“O mundo antigo está cheio de exemplos de cidades que são completamente diferentes das cidades que temos hoje”, conclui Auld-Thomas.
“Havia cidades que eram colchas de retalhos agrícolas e hiperdensas. E havia cidades que eram altamente igualitárias e extremamente desiguais”, sublinha à publicação Heritage Daily.
Ainda não há certeza do que levou ao desaparecimento e eventual abandono da cidade, mas os arqueólogos apontam que uma "alteração climática poderá ter sido um fator importante".
Valeriana | Auld-Thomas et al., Antiquity 2024
A área inexplorada nesta área mexicana só foi possível graças à tecnologia LiDAR, que significa Light Detection and Ranging. É um método de análise e registo feito remotamente - por drone ou aeronave - que usa a feixes de luz na forma de um laser para medir alcances (distâncias variáveis) da Terra como se fosse um RX ou ecografia.
O laser atravessa a vegetação e só devolve o sinal ao encontrar obstáculos no subsolo. As diferenças nos tempos de retorno do laser e comprimentos de onda associados podem ser usadas para compilar um mapa digital 3D das anomalias da paisagem.
Foram os dados captados através desta tecnologia de mapeamento LiDAR, que os arqueólogos da Universidade Tulane, do Instituto Nacional de Antropologia e História no México e da Universidade de Houston acabaram por encontrar Valeriana, mais uma grande marca da cultura Maia.
"O Governo nunca soube, a comunidade científica nunca soube. Esta descoberta realça que de fato não encontramos tudo, e sim, há muito mais a ser descoberto", remata Auld-Thomas.