Dias depois de apresentar o seu programa de governo, o primeiro-ministro de França, empossado há apenas um mês, enfrentou esta quinta-feira a primeira moção de censura ao seu governo minoritário.
O texto foi rejeitado, anunciou o presidente da Assembleia Nacional Yaël Braun-Pivet, tendo os 131 votos a favor ficado longe dos 288 necessários para fazer cair o executivo.
O partido de extrema-direita, Rassemblement National (RN), tinha decidido não de associar à moção, impossibilitando que esta chegasse à maioria de votos exigida. Mas o afastamento socialista só reforçou o chumbo.
A moção de censura desta quinta-feira foi proposta pelo partido França Insubmissa, que representa a esquerda radical, sendo subscrita pelos deputados comunistas e ecologistas, aliados na Nova Frente Popular, que venceu as eleições.
Numa primeira brecha à aliança entre aqueles três partidos mais o PSF, os socialistas preferiram contudo desta vez não dar aval à censura, mesmo sem excluir opção diversa quando for apresentado o Orçamento do Estado. Reunido esta quinta-feira, o Conselho Nacional do PS francês decidiu não votar a moção, após um debate "aceso", de acordo com um dos participantes.
Olivier Faure, secretário-geral socialista, explicou que, apesar da decisão de hoje, o PS permanece "na oposição". Está contudo "aberto a acordos", e irá lembrar as suas "exigências" orçamentais quando fôr negociar com o executivo de Bayrou.
O primeiro-ministro está disposto a fazer concessões para garantir o apoio socialista, numa estratégia diferente do seu antecessor, Michel Barnier, que procurou o apoio do RN.
Sem abandonar totalmente a proposta contestada do aumento da idade da reforma, François Bayrou já admitiu revê-la, caso os parceiros sociais apresentem alternativas ao financiamento do sistema de pensões.
Bayrou desistiu ainda de propostas dos anteriores executivos, como a supressão de 4000 empregos na pasta da Educação e o projeto de prolongamento do direito de carência, de um para três dias, para os funcionários públicos em caso de baixa médica. Irá por outro lado "manter" o projeto de taxas sobre os altos rendimentos.
A França vive tempos de instabilidade inédita e continua sem Orçamento do Estado para 2025. As eleições antecipadas convocadas pelo Presidente Emmanuel Macron há pouco mais de seis meses, elegeram um parlamento fracturado com poucas hipóteses de entendimento.
Mesmo antes do debate na Assembleia sobre a moção de censura, o primeiro-ministro não hesitou em apontar o dedo à extrema esquerda, acusando-a de fomentar a discórdia permanente.
"A escolha que temos perante nós, na situação tão grave que o nosso país enfrenta", lembrou, é "entre o perpétuo confronto interno e a tentativa de encontrar uma via de diálogo, de reflexão, de compromisso, de negociação para que as coisas avancem".
Já Manuel Bompard, coordenador nacional do França Insubmissa, previu a queda do "governo do mal" de Bayrou assim como a do "monarca" Macron, sem deixar de lançar farpas aos socialistas, atacando a "irresponsabilidade" daqueles que preferem "esperar ainda alguns dias ou semanas", para se pronunciarem.
O centrista François Bayrou, de 73 anos tenta evitar que o seu período de permanência no cargo seja inferior ainda ao do seu antecessor, Michel Barnier, que foi primeiro-ministro uns escassos três meses, tendo caído perante uma aliança dos deputados da esquerda e da extrema direita sem conseguir aprovar um Orçamento.
As eleições do verão de 2024 resultaram num Parlamento fraturado em três blocos, o da aliança da esquerda, o de macronistas e centristas e o da extrema-direita, sem que nenhum detenha a maioria absoluta.
Macron decidiu não convidar o bloco maioritário da Nova Frente Nacional a formar governo, preferindo nomear sucessivos primeiros-ministros da sua área política que não conseguem fazer passar os seus programas.