Vuelta. `Festival` para trepadores testa candidatos de fio a pavio na 80.ª edição

A 80.ª edição da Volta a Espanha em bicicleta apresenta um percurso que favorece trepadores, com etapas de alta montanha em cada uma das três semanas de corrida, na estrada entre quinta-feira e 14 de setembro.

Lusa /
Reuters

Ao contrário de outras edições, e outras grandes Voltas, a organização da Vuelta espalhou este ano pelas 21 etapas as chegadas em alta montanha, com várias das subidas míticas espanholas no traçado que contempla 3.151 quilómetros.

Antes disso, um 'trabalho italiano', pelas ruas de Turim, Piemonte e Venaria Reale, nas primeiras três etapas, precede a viagem para a Catalunha, via Andorra, nas primeiras de 11 chegadas em alto da Vuelta.

Antes, à quinta etapa, o cada vez mais raro contrarrelógio por equipas, logo na primeira semana, precedendo subidas duras a Pal, Cerler, Valderazcay (esta na nona etapa, antes do primeiro dia de descanso) e Belagua.

Os 24,1 quilómetros em Figueres, junto à fronteira com França, testarão as equipas menos preparadas para um dos exercícios mais peculiares do ciclismo de estrada, sem grande descanso antes da ascensão a Pal, em Andorra.

Depois desses 170,3 quilómetros, seguem-se 188 quilómetros até Cerler, nova subida, num final de agosto ‘demolidor’ para o pelotão, que ainda terá de chegar à Estância de Esqui de Valdezcaray antes de poder gozar o primeiro de dois dias de descanso.

O Alto de El Morredero, na 16.ª etapa, surge depois da mais famosa das montanhas incluídas, o Angliru, logo à 13.ª tirada, seguindo-se Farrapona (14.ª), tudo a caminho de Bola del Mundo, na 20.ª e penúltima etapa, antes da ‘procissão’ em Madrid.

Depois da travessia basca, as principais dificuldades da segunda semana dividem-se entre o famoso Angliru e La Farrapona, ajudando a definir os primeiros lugares da geral antes da decisiva terceira semana.

Aí, são os 27,2 quilómetros de ‘crono’ em Valladolid, agora com cada homem por si, e a ascensão ao Puerto de Navacerrada que farão as últimas diferenças.

Esta ascensão situa-se 2.251 metros acima do nível das águas do mar, afigurando-se decisiva.

A corrida parece assentar a alguns dos favoritos, sobretudo o dinamarquês Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), ainda que o português João Almeida (UAE Emirates), outro dos candidatos, tenha mostrado mais capacidades na alta montanha este ano, mantendo-se entre a elite mundial no contrarrelógio.


Vuelta: Almeida assume que foi duro lidar com a desistência do Tour
O português João Almeida confessa que foi duro lidar com a desistência da Volta a França em bicicleta, reconhecendo que ficou com a ideia de que conseguiria estar no pódio final da 112.ª edição.

“Foi duro, porque sabia que estava bem. A preparação foi bastante boa. São oportunidades… não é fácil uma pessoa preparar-se e as coisas correrem sempre bem, não é ‘um mais um são dois’, não é assim tão matemático. São muitos sacrifícios, muito tempo fora de casa, muito treino, muito esforço. Depois acaba por ser tudo deitado por água abaixo assim um bocadinho sem justificação”, lamentou à Lusa.

O ciclista português da UAE Emirates sofreu uma queda aparatosa na sétima etapa, fraturando uma costela e ficando com escoriações profundas no corpo, e ainda tentou manter-se em prova, mas acabou por abandonar dois dias depois.

“Não valeu de quase nada todo aquele sacrifício e todo o esforço. Mas faz parte do ciclismo, às vezes estes azares batem à porta. O que interessa é a longo prazo estarmos bem e irmos crescendo de ano por ano. E, no final de contas, foi uma queda feia, mas não foi nenhuma lesão grave que me impedisse de estar muito tempo assim sem tocar na bicicleta, ou assim uma coisa grave que deixasse a minha saúde em risco”, salientou.

Apesar do azar, o sempre otimista Almeida defende que, “na pior das hipóteses, até correu tudo bastante bem” e teve “sorte”.

Quem acompanhou diariamente o Tour e seguiu de perto a temporada do corredor de 27 anos ficou convencido de que, caso não tivesse caído, o melhor voltista português da atualidade e segundo melhor de sempre (em resultados em grandes Voltas) teria ‘imitado’ o feito de Joaquim Agostinho.

“Obviamente que nunca vou saber, porque ou está-se lá e faz-se ou, para mim, as comparações e aqueles pensamentos do ‘podia ter feito’ não existem. Ou estamos lá e fazemos, ou não estamos e não fazemos. Mas fico com a ideia de que conseguiria estar lá”, admitiu.

Além dos ‘habitués’ Tadej Pogacar (UAE Emirates) e Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), respetivamente primeiro e segundo como no ano passado, ao pódio do Tour subiu também Florian Lipowitz (Red Bull-BORA-hansgrohe), que acabou a distantes 11 minutos do vencedor.

Embora revele não ter seguido atentamente a ‘Grande Boucle’, por ter tentado “espairecer ao máximo e passar algum tempo com a namorada e a família”, Almeida prestou atenção às etapas mais duras e aos contrarrelógios e também às palavras de ‘Pogi’, que reiteradamente foi mencionando o português, de quem não se esqueceu nem na publicação com que assinalou o quarto triunfo no Tour.

“Nós já somos corredores com um certo tipo de experiência, com um certo tipo de estatuto e que sabemos o que estamos lá a fazer. Há um respeito gigante e todos sabem o lugar deles. Eu sabia o meu lugar neste Tour e estava a dar tudo pelo Tadej e, como sempre, estava 100% motivado para fazer o meu melhor por ele. E foi o que fiz enquanto estive lá. E acho que toda a gente sentia o mesmo e eu sinto o mesmo também pelos outros”, declarou à Lusa.

Tal como na edição do ano passado, João Almeida foi eleito melhor ‘gregário’ da primeira semana do Tour, depois de ter sido fundamental na vitória número 100 do esloveno, conquistada na quarta etapa da 112.ª edição.

“Gera-se ali um ambiente com uma energia em grupo, como uma família, que poucas vezes acontece. Acaba por ser ali especial esse momento, valoriza-se as pessoas e fico feliz por eles valorizarem a minha presença e o meu trabalho”, concluiu.

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