Milhares de pessoas contra o racismo nas ruas de Lisboa contrastaram com vigília menos expressiva do Chega
Milhares de pessoas manifestaram-se no sábado, em Lisboa, contra o racismo e a xenofobia. O protesto quis condenar a instrumentalização política da PSP na sequência da operação policial que decorreu no mês passado no Martim Moniz, marcada pela imagem de vários imigrantes em fila contra uma parede durante uma rusga. Ao mesmo tempo, decorreu na capital uma vigília do Chega que contou com algumas centenas de participantes.
Foi o caso da socialista Alexandra Leitão, para quem a polícia “não pode nem deve ser instrumentalizada no discurso político”.
Já a bloquista Mariana Mortágua afirmou que “o que se une neste dia é o orgulho anti-racismo, a coragem da solidariedade nos momentos mais difíceis”.
Do lado do PCP, João Ferreira alertou para o “perigo” da instrumentalização política das forças de segurança. “É um perigo para a população, é um perigo para os próprios agentes das forças de segurança, é um perigo para a democracia (…). Hoje são uns, amanhã seremos todos”, declarou.
Rui Tavares, do Livre, falou por sua vez num “país de convivência, solidariedade e respeito mútuo”, considerando estes os fatores que trazem “segurança a toda a gente”.
O PAN denunciou o “aproveitamento político por parte do Governo de Luís Montenegro”, acusando o primeiro-ministro de se esquecer que “se as pessoas têm uma falsa sensação de insegurança ou de perceção em relação à imigração, isso deve-se a quem procura alimentar os discursos de ódio, de atirar uns contra os outros, e não às condições reais que temos no nosso país”.
Manifestação do Chega menos expressiva
Em simultâneo, decorreu uma vigília do Chega em defesa dos polícias, mas muito menos expressiva, contando com algumas centenas de pessoas. No seu discurso num palco na Praça da Figueira, André Ventura acusou o primeiro-ministro de ter cedido à pressão e de ter perdido a coragem.
"Nós queremos mais operações daquelas enquanto os números não pararem de aumentar, até ao dia em que este país já não será fácil de se identificar a si próprio e um dia olhar-nos-emos ao espelho e já não reconheceremos a nossa identidade", disse, com uma bandeira de Portugal ao ombro.
A cerca de 300 metros do Martim Moniz, Ventura pediu aos presentes que terminassem as suas frases com o grito "encostem-nos à parede", de forma a fazerem-se ouvir.
"Se eles são pedófilos, se eles são traficantes, se eles forem ilegais, se eles assediarem e perseguirem as mulheres, se eles traficarem droga, se eles derem cabo da nossa vida e dos nossos valores, encostem-nos à parede, uma e outra e outra vez, até perceberem que este país é nosso e que a lei é para cumprir em Portugal", pediu.
Montenegro fala em “dois extremos”
Pronunciando-se acerca das duas manifestações de sábado, Luís Montenegro disse que os extremos saíram à rua e que o PSD é o elemento moderador da sociedade.
“Num dia onde os extremos erguem cada um a sua bandeira em contraponto, em conflito aberto para o outro – o da direita para a esquerda e o da esquerda para a direita – nós somos o elemento aglutinador, de confluência, de moderação. Aqueles que privilegiamos o respeito dos direitos das pessoas e o interesse coletivo de todo o povo português”, declarou o primeiro-ministro.
Depois desta declaração, a líder do Bloco de Esquerda criticou o chefe de Governo. Numa publicação na rede social X, Mariana Mortágua escreveu que, à velha arrogância cavaquista perante a crítica, Luís Montenegro junta a simetria irresponsável entre racismo e anti-racismo.
Acrescentou ainda que, se Montenegro não seguisse o Chega, não sentiria necessidade de se distanciar dos milhares que encheram as ruas pela liberdade.
Montenegro diz que "os extremos" saíram hoje à rua. À velha arrogância cavaquista perante a crítica, junta a simetria irresponsável entre racismo e anti-racismo. Se não seguisse o Chega, não sentiria necessidade de se distanciar dos milhares que encheram as ruas pela liberdade.
— mariana mortágua (@MRMortagua) January 11, 2025
Já o Secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, veio dizer que os portugueses mostraram de que lado é que estão ao encherem as ruas de Lisboa na manifestação anti-racismo.
Em declarações aos jornalistas em Braga, Pedro Nuno afirmou que a manifestação contra o racismo e a xenofobia "foi uma das maiores manifestações" que a capital já conheceu. Pelo contrário, acrescentou, a manifestação convocada por grupos da extrema-direita e pelo partido Chega "teve pouca gente".
"Acho que este dia mostra bem que os portugueses estão do lado da democracia, da liberdade, da segurança, mas da segurança efetiva, não é da de operações que são instrumentalizadas por governos ou por políticos, é da segurança, do policiamento de proximidade, da utilização das câmaras de videovigilância para nos proteger", referiu o líder socialista.