Inflação abranda nos EUA. Impacto poderá beneficiar politicamente Kamala Harris
Depois do BCE, a Reserva Federal dos Estados Unidos, a FED, deverá seguir o mesmo caminho, com o anúncio, na próxima quarta-feira, de um corte de 25 pontos base nas taxas de juro a ser dado como garantido.
A inflação galopante tem sido um dos principais argumentos da campanha, sobretudo para o ex-presidente, Donald Trump, rival de Harris na Corrida à Casa Branca, pelo Partido Republicano.
Trump tem utilizado as dificuldades económicas sentidas por milhões de pessoas para denegrir a estratégia democrata dos últimos anos e fazer brilhar o seu próprio sucesso na Economia durante a sua presidência.
As críticas ficaram patentes terça-feira, no primeiro e até agora único debate entre os dois candidatos.
"Isto tem sido um desastre para as pessoas, para a classe média, mas para todas as classes", sublinhou ainda Trump.
Esta permanece a perceção da maioria dos eleitores, apesar da progressão dos preços ser atualmente a mais lenta desde o segundo mês do mandato do presidente Joe Biden.
O abrandamento demora a refletir-se na carteira e milhões de pessoas permanecem frustradas com a alta cumulativa do custo de vida dos últimos três anos.
A descida dos preços também não é uniforme.
Os custos com a habitação, o maior impulsionador inflacionário no ano passado, agravaram-se em 5,2 por cento. Mas os preços da gasolina caíram mais de 10 por cento.
O preço geral dos bens de consumo caiu quase dois por centro no último ano, devido à diminuição acentuada dos preços de carros e camiões usados. Contudo, uma ida ao cabeleireiro ou à oficina continua a encarecer.
Chris Waller, diretor da FED, percebe as dificuldades. "Eu também vou às compras. Olho para alguns preços e digo nem por sombras compro isto", admitiu na semana passada numa conferência.
Waller acredita contudo que os preços não vão regressar aos níveis de 2019 ou de 2020. Pensa que o aumento dos salários irá gradualmente engolir a diferença resgistada e que está atualmente a abrandar.
De acordo com o Departamento do Emprego, os preços nos supermercados subiram 25,5 por cento desde o início da pandemia de Covid-19, ao passo que os salários foram aumentados em 23,5 por cento.
Muitos analistas acreditam que o abrandamento se deve precisamente a uma resistência ao consumo que tem vindo a crescer.
Nos últimos três anos, explicam, os norte-americanos conseguiram sustentar-se e à economia sobretudo graças às poupanças acumuladas durante o período da pandemia. Estas entretanto desapareceram, levando os consumidores a retrair-se.
Em reação, as empresas estão a baixar os preços ou, pelo menos, a não os agravarem tanto como seria espectável ou não colocando bens à venda.
Além da inflação
O corte previsto nas atuais taxas de juro, as mais elevadas em mais de duas décadas, visa ajudar as empresas a relançarem-se, refletindo o abrandamento da inflação, apesar desta ainda estar acima do objetivo da FED, de 2,0 por cento. Chegou o momento de evitar o desacelerar da economia e o consequente desemprego.
Os analistas consideram por isso que o mercado laboral tem vindo a arrefecer mas sem dar mostras de recessão. Os dados de desemprego relativos a agosto vão ser publicados esta sexta-feira e são aguardados com expectativa.
E a China?
Outros indicadores além da inflação e do mercado laboral entram para a análise, incluindo a subida dos custos dos serviços.
Por exemplo, apesar da tendência de arrefecimento da inflação se manter consistente, em agosto os preços no produtor foram ligeiramente superiores ao esperado, tendo subido 0,2 por cento.
A maior beneficiada tem sido a China, a maior prejudicada a indústria norte-americana, com o Produto Interno Bruto a sofrer o impacto por dois trimestres consecutivos.