Rusga no Martim Moniz. Governo destaca "visibilidade", esquerda denuncia "agenda da extrema-direita"

por Carlos Santos Neves - RTP
A PSP voltou a desencadear, na quinta-feira, uma operação de denominada “prevenção criminal” no Martim Moniz, em Lisboa Rodrigo Lobo - RTP

A “operação especial de prevenção criminal”, no léxico da Polícia de Segurança Pública, desencadeada na quinta-feira na zona do Martim Moniz, em Lisboa, está a precipitar nova chuva de críticas sobre a ministra da Administração Interna. Bloco de Esquerda, PCP e Livre já requereram a audição de Margarida Blasco no Parlamento, diante de uma ação das forças de segurança à qual atribuem um potencial “alarme social”. Pelo Governo falou o primeiro-ministro: Luís Montenegro considera “muito importante que operações como esta decorram”.

Foi com aparato que a PSP voltou a lançar uma “operação especial” no coração de Lisboa. Um forte dispositivo policial destacado para o Martim Moniz concluiu a ação com a detenção de uma pessoa por alegada posse de arma branca e droga. Foram ainda apreendidos cerca de uma centena de artigos contrafeitos e perto de quatro mil euros em dinheiro.

Um mandado de detenção da Polícia Judiciária levou à detenção de uma outra pessoa, suspeita de furtos.

Segundo a subcomissária Ana Raquel Ricardo, porta-voz do COMETLIS, o modelo de “operação especial de prevenção criminal dá legitimidade para fazer outro tipo de diligências, nomeadamente a revista de cidadãos que se encontrem no local e revista de viaturas” - e o contingente “foi o necessário”.A operação de quinta-feira mobilizou meios das Equipas de Intervenção Rápida, das Equipas de Prevenção e Reação Imediata, de trânsito e à civil, da investigação criminal e fiscalização.


A partir de Bruxelas, onde participou na reunião do Conselho Europeu, o primeiro-ministro veio considerar “muito importante” que as forças de segurança levem a cabo tais ações.

“Há uma coisa que me parece óbvia, é muito importante que operações como esta decorram, para que haja visibilidade e proximidade no policiamento e fiscalidade de atividades ilícitas”, quis sustentar Luís Montenegro. Para o governante, operações de prevenção “têm um duplo conteúdo”: reforçam a “tranquilidade dos cidadãos, por um lado”, e respondem a “condutas criminosas”.

À esquerda lamenta-se o “alarme social”.

BE, PCP e Livre decidiram requerer a audição da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, na Assembleia da República, perante o que encararam como uma operação inadequada e desproporcional.

Em declarações aos jornalistas, em São Bento, o líder parlamentar bloquista, Fabian Figueiredo, sublinhou que o país “assistiu a imagens aviltantes, revoltantes, indecorosas”, com “dezenas de pessoas encostadas à parede por simplesmente serem imigrantes”.

“Isto é inaceitável, não se coaduna com os princípios do Estado de Direito democrático”, prosseguiu o deputado do Bloco, para acrescentar: “Tratou-se meramente de um número de propaganda de extrema-direita, promovida pelo Governo e o mais grave é que o Governo não esconde que instrui as forças de segurança para perseguir imigrantes”.

Fabian Figueiredo acusou mesmo o Executivo da Aliança Democrática de ter “embarcado numa campanha de perseguição aos imigrantes” e de “instrumentalizar as forças de segurança para fazer campanha eleitoral, para disputar apoio eleitoral à extrema-direita”.“Não assistiremos impávidos e serenos a esta escalada que o Governo está a promover e, por assim ser, daremos entrada daqui a poucos minutos de um requerimento para ouvir a ministra da Administração Interna e o diretor-nacional da PSP”, vincou o dirigente bloquista.


Na mesma linha, o deputado comunista António Filipe veio igualmente anunciar um requerimento para questionar a titular da pasta da Administração Interna, “tendo em conta a forma que revestiu a operação policial”.

“Foi anunciado que o objetivo era contribuir para aumentar a segurança dos cidadãos e dar cumprimento a seis mandados judiciais. As imagens que chegaram dessa operação policial suscitam dúvidas quanto à sua adequação e proporcionalidade, sobretudo quando se diz que o objetivo é aumentar a segurança dos cidadãos”, apontou.

“Fica-se com a sensação de que elas poderão também contribuir para criar algum alarme social que pode não se justificar”. Pelo Livre, Rui Tavares, frisou ser “muito importante que as autoridades policiais e a sua tutela política” esclareçam se ações policiais como esta têm “uma real razão de existir do ponto de vista da segurança ou se elas existem apenas para responder mediaticamente à extrema-direita”.

“Se for assim temos a autoridade do Estado muito mal entregue”, reprovou.

“Hoje é um dia em que a agenda do Governo e do PSD foi completamente determinada pela extrema-direita, dentro e fora do Parlamento”, continuou Rui Tavares.

“Dentro do Parlamento com o acompanhamento do debate sobre perceções em termos de saúde, fora do Parlamento com uma operação policial que é suspeite primeiro, detenha primeiro, encoste à parede primeiro e depois veja se a pessoa efetivamente é suspeita de alguma coisa ou cometeu algum crime”.

c/ Lusa
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