Catar 2022. A participação de Portugal em Mundiais

por Inês Geraldo - RTP
Portugal prepara-se para disputar o sétimo Mundial da sua história Reuters

Foi nos anos 60 do século passado que Portugal estreou-se numa grande competição do futebol. Em Inglaterra, a seleção portuguesa brilhou e terminou o torneio em terceiro lugar, a melhor participação portuguesa até hoje. Depois de uma passagem por Saltillo, o regresso deu-se em 2002, mundial de más memórias, e desde essa altura que Portugal não falha o principal torneio da FIFA. O Catar 2022 vai ser a sétima participação lusa, a sexta consecutiva.

Decorria o ano de 1966 quando Portugal conseguia, pela primeira vez, participar numa grande prova do futebol. Um palco que o Estado Novo tentou aproveitar para valorizar a ideia de um Portugal do “Minho até Timor”. Eusébio, Hilário, Coluna ou Vicente Lucas eram alguns dos grandes nomes que a seleção ia levar ao país que inventou o futebol.

Todos estes quatro jogadores tinham a mesma origem: todos nascidos em Moçambique, antiga colónia portuguesa. E quatro nomes ainda hoje recordados no futebol português por muitos grandes feitos alcançados nas equipas portuguesas.

A fase de grupos não se afigurou fácil. Hungria, Bulgária e o super poderoso Brasil, de Pelé e Garrincha, campeões mundiais. No entanto, a tarefa foi passada com distinção pelos portugueses: três jogos, três vitórias.

Na fase a eliminar, Eusébio foi figura de uma reviravolta incrível. Frente à Coreia do Norte, Portugal esteve a perder 3-0 mas quatro golos do Pantera Negra e outro de José Augusto levaram a seleção a outros patamares.



Seguiu-se a anfitriã Inglaterra e a primeira derrota. Bobby Charlton contra Eusébio e o inglês a levar a melhor por 2-1, numa partida cujo final ficou marcado pelas lágrimas de Eusébio. Na atribuição do terceiro e quarto lugares, Portugal venceu a União Soviética e carimbou o terceiro lugar, que até hoje, ainda é a melhor participação portuguesa em Mundiais. O próximo só chegaria em 2002.
1986. O escândalo de Saltillo

Portugal regressou a Mundiais 20 anos depois da primeira participação. No México, deu-se o afamado caso de Saltillo. Uma disputa entre Federação de futebol e jogadores (na altura no grupo havia nomes como Paulo Futre, Diamantino Miranda, Jaime Pacheco ou Vítor Damas) devido à questão dos prémios de jogo deixou uma imagem cinzenta da seleção portuguesa.

Numa fase de grupos com Inglaterra, Polónia e Marrocos, a seleção só venceu a primeira partida frente aos ingleses, por 1-0. As derrotas com Polónia e Marrocos atiraram a equipa treinada por José Torres para fora do Mundial.

Até hoje, Saltillo é visto como um dos episódios mais negros da história do futebol português.
2002. Mundial Coreia/Japão
Depois do brilharete no Euro2000 com uma geração de ouro a chegar às meias-finais da prova europeia, grandes eram as expectativas para a seleção no regresso a Mundiais, 36 anos depois de 1966.

Humberto Coelho havia empolgado muitos com o futebol envolvente e espetacular na Bélgica em 2000 e com António Oliveira esperava-se grandes feitos para Portugal, com grandes nomes como Vítor Baía na baliza, Fernando Couto, Paulo Sousa, Rui Costa, Luís Figo e Pauleta.

Na fase de grupos, três adversários que tudo faziam prever que as fases a eliminar seriam alcançadas. No entanto, tudo correu mal para as hostes portuguesas.

O primeiro jogo frente aos Estados Unidos foi perdido por 3-2. A Polónia chegou a dar esperança à seleção depois de uma goleada por 4-0. No entanto, a terceira partida frente a um dos anfitriões, a Coreia do Sul, terminou da pior maneira. Derrota por 1-0, conflito com o árbitro de João Vieira Pinto, expulsão e viagem portuguesa marcada para casa mais cedo.
2006. Junção da experiência com a juventude
Já com Luiz Felipe Scolari ao leme e Cristiano Ronaldo em grande forma no Manchester United, Portugal esteve presente no Mundial 2006, na Alemanha. Depois da final perdida em 2004, no Estádio da Luz, no Europeu, a seleção apresentou-se em boa forma e foi considerada uma das equipas do torneio.
Foto: Pauleta festeja o único golo de Portugal frente a Angola - Reuters

A fase de grupos trouxe três vitórias em três jogos: frente à estreante Angola, frente ao Irão e ao México.

A seleção começou a fase das eliminatórias num dos jogos mais recordados dos últimos mundiais e apelidado de a “Batalha de Nuremberga”. Portugal ganhou 1-0 frente à Holanda, com um golo de Maniche, numa partida que contou com dezenas de cartões amarelos e quatro expulsões.

Seguiu-se a Inglaterra e Portugal venceu nas grandes penalidades, numa partida que fica marcada por outra polémica. Cristiano Ronaldo foi muito criticado pela imprensa inglesa por ter ajudado à expulsão de Wayne Rooney, ponta de lança inglês, e seu colega no Manchester United.

Nas meias-finais, Portugal não conseguiu ultrapassar a França e perdeu por 1-0. No jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares, a Alemanha, anfitriã, reclamou o terceiro lugar, deixando o quarto posto para a equipa liderado por Scolari.
África do Sul e Brasil. Eliminações precoces
Em 2010 e 2014, Portugal voltou a estar presente em Mundiais mas com poucas razões para sorrir. Já sem a chamada geração de ouro, a África do Sul trouxe um embate interessante entre Brasil e Portugal na fase de grupos que acabou num nulo.

Frente à Costa do Marfim também houve empate e a única vitória deu-se frente à Coreia do Norte, por expressivos 7-0.

Nos oitavos de final, David Villa matou o sonho português, a Espanha avançou na prova e acabou por se sagrar campeã mundial pela primeira vez.
Foto: David Villa festeja o único golo que valeu a eliminação a Portugal em 2010 - Reuters

No Brasil, em 2014, a seleção gerou muita expectativa pela presença de Cristiano Ronaldo. O capitão português chegou lesionado e jogou condicionado. O Mundial começou da pior maneira para a seleção com uma goleada sofrida frente à Alemanha.

Quando se esperava uma resposta frente aos Estados Unidos, o “soccer” não se deixou abalar pela vantagem lusa dada por Nani e deu a volta ao resultado. Só Silvestre Varela conseguiu evitar uma espécie de cataclismo ao marcar o golo do empate aos 95 minutos.

No entanto, e como em muitas ocasiões da vida da Seleção Portuguesa, a calculadora transformou-se num objeto obrigatório. Frente ao Gana, Portugal venceu, terminou com a mesma pontuação dos Estados Unidos mas a diferença de golos (devido à goleada sofrida frente à Alemanha) colocou Portugal fora da prova ainda na fase de grupos.
2018. O campeão europeu mostra-se na Rússia
Na Rússia, Portugal apresentou-se pela primeira vez numa grande prova com galões. A seleção venceu o Europeu de 2016 e subiu ao relvado com as insígnias de campeão europeu na camisola.

Na fase grupos, uma espécie de cimeira de países vizinhos: para além de Portugal, Espanha e Marrocos, juntando-se depois o Irão treinado por Carlos Queiróz.

Portugal começou a sua jornada com um verdadeiro épico de futebol. Com a Espanha, Portugal esteve a ganhar por duas vezes e a poucos minutos do fim esteve a perder por 3-2. Perto dos 90, um livre magistral de Cristiano Ronaldo levou ao empate entre duas equipas que elevaram a fasquia do bom futebol para o resto da prova.
Foto: Fernando Santos durante uma partida no Mundial 2018 - EPA

Ronaldo voltaria a brilhar na vitória sofrida frente a Marrocos e com o Irão veio o empate a um golo. Quaresma marcou numa trivela perfeita, Ronaldo falhou uma grande penalidade e a equipa técnica de Carlos Queiróz pressionou a equipa de arbitragem e o VAR até ser marcado um penálti que o empate aos iranianos.

No entanto, Portugal conseguiu a passagem à próxima fase mas por aí ficaria. Frente ao Uruguai de Luís Suárez e de Óscar Tabarez, foi Edinson Cavani a mandar Portugal para casa com dois golos. Pepe ainda empatou a partida mas os uruguaios seguiram na prova que acabaria por ser vencida pela França.

Em 2022, o grupo tem quatro equipas de quatro continentes diferentes. Para além do reencontro com o Uruguai na fase de grupos, Portugal vai voltar a defrontar o Gana e reencontrar, 20 anos depois, a Coreia do Sul, agora treinada por Paulo Bento, antigo selecionador nacional.
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