Um exemplo de galanteio, ostentando a reverência que era de regra nos códigos do amor vigentes no tempo de Camões; um exercício poético subtil e audaz, construído em estreito diálogo com a tradição literária.
MAIS INFOOde “Nunca manhã suave”
Nunca manhã suave, /
estendendo seus raios pelo mundo /
despois de noite grave, /
tempestuosa, negra, em mar profundo, /
alegrou tanto nau, que já no fundo /
se viu em mares grossos, /
como a luz clara a mim dos olhos vossos. //
Aquela fermosura /
que só no virar deles resplandece, /
com que a sombra escura /
clara se faz, e o campo reverdece /
quando meu pensamento s’entristece, /
ela e sua viveza /
me desfazem a nuvem da tristeza. //
O meu peito, onde estais, /
é, para tanto bem, pequeno vaso; /
quando acaso virais /
os olhos, que de mim não fazem caso, /
todo, gentil Senhora, então me abraso /
na luz que me consume, /
bem como a borboleta faz no lume. //
Se mil almas tivera /
que a tão fermosos olhos entregara, /
todas quantas tivera /
polas pestanas deles pendurara, /
e, enlevadas na vista pura e clara /
(posto que disso indinas), /
se andaram sempre vendo nas mininas. //
E vós, que descuidada /
agora vivereis de tais querelas, /
d’almas minhas cercada /
não pudésseis tirar os olhos delas; /
não pode ser que, vendo a vossa antr’elas, /
a dor que lhe mostrassem, /
tantas ?a alma só não abrandassem. //
Mas pois o peito ardente /
?a só pode ter, fermosa Dama, /
basta que esta sòmente, /
como se fossem duas mil, vos ama, /
para que a dor de sua ardente /
flama convosco tanto possa /
que não queirais ver cinza ?a alma vossa. //
Um exemplo de galanteio, ostentando a reverência que era de regra nos códigos do amor vigentes no tempo de Camões; um exercício poético subtil e audaz, construído em estreito diálogo com a tradição literária.
Nunca manhã suave, /
estendendo seus raios pelo mundo /
despois de noite grave, /
tempestuosa, negra, em mar profundo, /
alegrou tanto nau, que já no fundo /
se viu em mares grossos, /
como a luz clara a mim dos olhos vossos. //
Aquela fermosura /
que só no virar deles resplandece, /
com que a sombra escura /
clara se faz, e o campo reverdece /
quando meu pensamento s’entristece, /
ela e sua viveza /
me desfazem a nuvem da tristeza. //
O meu peito, onde estais, /
é, para tanto bem, pequeno vaso; /
quando acaso virais /
os olhos, que de mim não fazem caso, /
todo, gentil Senhora, então me abraso /
na luz que me consume, /
bem como a borboleta faz no lume. //
Se mil almas tivera /
que a tão fermosos olhos entregara, /
todas quantas tivera /
polas pestanas deles pendurara, /
e, enlevadas na vista pura e clara /
(posto que disso indinas), /
se andaram sempre vendo nas mininas. //
E vós, que descuidada /
agora vivereis de tais querelas, /
d’almas minhas cercada /
não pudésseis tirar os olhos delas; /
não pode ser que, vendo a vossa antr’elas, /
a dor que lhe mostrassem, /
tantas ?a alma só não abrandassem. //
Mas pois o peito ardente /
?a só pode ter, fermosa Dama, /
basta que esta sòmente, /
como se fossem duas mil, vos ama, /
para que a dor de sua ardente /
flama convosco tanto possa /
que não queirais ver cinza ?a alma vossa. //
Um exemplo de galanteio, ostentando a reverência que era de regra nos códigos do amor vigentes no tempo de Camões; um exercício poético subtil e audaz, construído em estreito diálogo com a tradição literária.