Diz-me o que entendes por prémio, dir-te-ei quem és. Fará sentido adaptar assim, a Camões e ao seu poema, o provérbio popular? Vê-lo-emos observando as estrofes 76-79 d’Os Lusíadas.
MAIS INFOOs Lusíadas, X, 76-79
LXXVI
– Faz-te mercê, barão, a Sapiência /
Suprema de, c’os olhos corporais, /
Veres o que não pode a vã ciência /
Dos errados e míseros mortais. /
Sigue-me firme e forte, com prudência, /
Por este monte espesso, tu c’os mais. /
Assi lhe diz, e o guia por um mato /
Árduo, difícil, duro a humano trato. //
LXXVII
Não andam muito que no erguido cume /
Se acharam, onde um campo se esmaltava /
De esmeraldas, rubis, tais que presume /
A vista que divino chão pisava. /
Aqui um globo veem no ar, que o lume /
Claríssimo por ele penetrava, /
De modo que o seu centro está evidente, /
Como a sua superfícia, claramente. //
LXXVIII
Qual a matéria seja não se enxerga, /
Mas enxerga-se bem que está composto /
De vários orbes, que a Divina verga /
Compôs, e um centro a todos só tem posto. /
Volvendo, ora se abaxe, agora se erga, /
Nunca s’ergue ou se abaxa, e um mesmo rosto /
Por toda a parte tem, e em toda a parte /
Começa e acaba, enfim, por divina arte, //
LXXIX
Uniforme, perfeito, em si sustido, /
Qual, enfim, o Arquetipo que o criou. /
Vendo o Gama este globo, comovido /
De espanto e de desejo ali ficou. /
Diz-lhe a Deusa: – O transunto, reduzido /
Em pequeno volume, aqui te dou /
Do mundo, aos olhos teus, pera que vejas /
Por onde vás e irás e o que desejas. //
Diz-me o que entendes por prémio, dir-te-ei quem és. Fará sentido adaptar assim, a Camões e ao seu poema, o provérbio popular? Vê-lo-emos observando as estrofes 76-79 d’Os Lusíadas.