Eis o retrato de uma mulher que é o oposto da figura petrarquista idealizada (feia e má em vez de bela e graciosa). No entanto o poema presta-se a uma dupla leitura revelando o caráter lúdico da poesia de corte.
MAIS INFOSois uma dama /
das feias do mundo; /
de toda a má fama /
sois cabo profundo. /
A vossa figura /
não é para ver; /
em vosso poder /
não há fermosura //
Fostes dotada /
de toda a maldade; /
perfeita beldade /
de vós é tirada. /
Sois muito acabada /
de tacha e de glosa: /
pois, quanto a fermosa, /
em vós não há nada. //
De grão merecer /
sois bem apartada; /
andais alongada /
do bem parecer. /
Bem claro mostrais /
em vós fealdade: /
não há i maldade /
que não precedais //
de fresco carão /
vos vejo ausente; /
em vós é presente /
a má condição. /
De ter perfeição /
mui alheia estais; /
mui muito alcançais /
de pouca razão. //
Sois uma dama /
De grão merecer /
das feias do mundo; /
sois bem apartada; /
de toda a má fama /
andais alongada /
sois cabo profundo. /
do bem parecer. //
A vossa figura /
Bem claro mostrais /
não é para ver; /
em vós fealdade: /
em vosso poder /
não há i maldade /
não há fermosura /
que não precedais //
Fostes dotada /
de fresco carão /
de toda a maldade; /
vos vejo ausente; /
perfeita beldade /
em vós é presente /
de vós é tirada. /
a má condição. //
Sois muito acabada /
De ter perfeição /
de tacha e de glosa: /
mui alheia estais; /
pois, quanto a fermosa, /
mui muito alcançais /
em vós não há nada. /
de pouca razão. //
Poema escrito em redondilha menor, no qual é feito o retrato de uma mulher que é o oposto da figura petrarquista idealizada: o motivo da composição é a fealdade e a maldade e não a beleza e a graça femininas. No entanto, o poema presta-se a uma dupla leitura, que contraria esta primeira interpretação, dando conta do caráter lúdico muitas vezes associado às práticas de poesia de corte.