França em semana decisiva após vitória da extrema-direita na primeira volta das legislativas

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Fabrizio Bensch - Reuters

O partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional venceu a primeira volta das eleições legislativas antecipadas em França. Ainda assim, ficou aquém da maioria absoluta. Com a segunda volta agendada para o próximo domingo, inicia-se agora uma semana decisiva de negociações políticas que ditarão o rumo que França irá tomar.

Emmanuel Macron convocou eleições antecipadas após a vitória esmagadora da extrema-direita nas eleições europeias e os resultados foram um duro golpe para o presidente francês.

O partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, conquistou 33% dos votos, seguindo-se a coligação de partidos de esquerda, Nova Frente Popular, com 28,5% dos votos.


A coligação de centro-direita Ensemble, que inclui o partido do presidente Emanuel Macron, foi a grande derrotada da noite, ficando em terceiro lugar, com apenas 22%.


Jordan Bardella, presidente do RN e candidato a primeiro-ministro, saudou os resultados e mostrou ter já um discurso ensaiado para o próximo fim de semana, prometendo ser “um primeiro-ministro de todos os franceses”. Se Jordan Bardella se tornar primeiro-ministro, será a primeira vez que um governo de extrema-direita lidera a França desde a Segunda Guerra Mundial.

O partido de Le Pen ficou, no entanto, aquém da maioria absoluta. Inicia-se agora uma semana decisiva de negociações políticas que ditarão o rumo que França irá tomar.
“Frente republicana” irá funcionar?
A probabilidade de o RN vencer a segunda volta das eleições vai depender dos acordos políticos feitos pelos opositores nos próximos dias.

No passado, os partidos tradicionais de direita e esquerda fizeram acordos para retirar candidatos da segunda volta para evitar dividir o voto contra a RN – uma estratégia de votação tática conhecida como “frente republicana”.

Na noite de domingo, dirigentes da Nova Frente Popular Jean-Luc Mélenchon e Olivier Faure anunciaram que vão retirar as suas candidaturas nas circunscrições em que ficaram em terceiro lugar para travar o avanço da extrema-direita.

"A nossa estratégia é clara: nem um voto a mais, nem um deputado a mais para a União Nacional", disse Jean-Luc Mélenchon, líder do movimento de extrema-esquerda França Insubmissa, que forma a Nova Frente Popular juntamente com os socialistas, os comunistas e os ecologistas

“Qual é a escolha da segunda volta? Ou a Nova Frente Popular ou o RN. Nestas condições, não podemos ter outras propostas ou outros pedidos razoáveis a formular perante o nosso povo que não a seguinte: é preciso dar uma maioria absoluta à Nova Frente Popular, pois é a única alternativa”, afirmou.

Gabriel Attal, primeiro-ministro francês e porta-voz do Esemble, também anunciou a retirada de quase 70 candidatos em círculos onde o partido de Emmanuel Macron ficou em terceiro lugar. Uma escolha difícil e de "responsabilidade", admitiu.

“O nosso objetivo é claro: impedir o RN de ter uma maioria absoluta na segunda volta, de dominar a Assembleia Nacional e de governar o país com o seu projeto funesto”, declarou. “Nem um voto deve ir para o Reagrupamento Nacional”, reiterou.

A direita francesa segue a mesma estratégia. Esta segunda-feira, os deputados do RN instaram os políticos de centro-direita do partido Os Republicanos – que recebeu menos de 7% dos votos na primeira volta – a se retirarem dos distritos de forma a favorecerem o RN.

“Se eles sabem que não vão vencer, peço-lhes que se retirem e deixem o Reagrupamento Nacional vencer”, disse a deputada do RN, LaureLavalette

Mas a estratégia da frente republicana está menos certa do que nunca.

Numa declaração escrita, Macron apelou aos eleitores para se unirem em apoio de candidatos que sejam “claramente republicanos e democráticos”, o que, com base nas suas recentes declarações, excluiria candidatos do RN e da França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, mas não candidatos que representassem os partidos de esquerda mais moderados da Nova Frente Popular.

O ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, também descartou a possibilidade de pedir aos eleitores que escolham um candidato de extrema-esquerda do partido França Insubmissa se essa for a única opção realista para impedir um candidato da RN.

O futuro político francês ficará, assim, decidido na segunda volta das eleições, marcada para o próximo domingo, 7 de julho.
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