Crónica de bastidores. "Compagnons de route" na chegada a Paris
Guardo de Pequim 2008 a lição do primeiro momento. Aeroporto à estreia, sumptuosa imensidão, à escala do desejo de impressionar os simples humanos. Conseguido. "É a China a sublinhar-se Grande China", legenda o meu cérebro. Deixo o meu lugar à janela, colho os pertences, sigo rumo à manga que leva a terra firme.
É aí, ao primeiro pé que aterra mesmo na China que percebo como, por mania que tenha de que sou um tipo limpo de preconceitos, levo na cara com uma lição sobre mim.
Todo o meu primeiro horizonte é preenchido por um enorme cartaz, feito à medida para te obrigar a ler a mensagem, em mandarim ou em inglês:
"WELCOME TO CHINA". Assinatura: Coca-Cola.
"Ah!", exclama agora o meu cérebro. O comunismo, o anticapitalismo, a América inimiga, a independência do Ocidente... numa primeira imagem, a China ligou o autoclismo e lá se me foi pelo cano tanta ideia que tinha por garantida e nem sabia.
Desde aí, gato escaldado, tento lavar melhor a alma à chegada aos Jogos. Londres, Rio, desta Paris.
Descomprime os ombros, é uma pose que dá "boneco". Rodo o pescoço. São uma dezena de angolanos e o meu Rodrigo Lobo os vizinhos de escada rolante. "ANG". Curiosa cacofonia, numa sinapse. "Hang" em inglês é pendurar. Aguardar antes de usar é exatamente o espírito certo. Antes de julgar, de preconceber. (H)Ang.
Lembrei-me como eu e o Gonçalo Ventura, na Cerimónia de Abertura do Rio, fomos trucidados por uma dezena de indefectíveis angolanos porque a emissão da RTP estava em intervalo quando Angola desfilou para a glória.
Desta vez, ironia, são os meus "compagnons de route". Claro que meti conversa:
- Quantos são vocês na comitiva?
- 60 e tal - diz-me um elemento sem traje desportivo.
- Quem transmite os Jogos para Angola? A SuperSport? - Estou genuinamente curioso.
Ele diz-me que sim, mas um atleta de pagaia em punho acrescenta:
- A Zimbo. A Zimbo dá.
- Boa notícia! Desejo-vos sorte e saúde!
Respondeu-me com um sorriso rasgado.
Angola não é nossa mas é "dos nossos".
Bom augúrio. Alllez!! Allez vite!
Todo o meu primeiro horizonte é preenchido por um enorme cartaz, feito à medida para te obrigar a ler a mensagem, em mandarim ou em inglês:
"WELCOME TO CHINA". Assinatura: Coca-Cola.
"Ah!", exclama agora o meu cérebro. O comunismo, o anticapitalismo, a América inimiga, a independência do Ocidente... numa primeira imagem, a China ligou o autoclismo e lá se me foi pelo cano tanta ideia que tinha por garantida e nem sabia.
Desde aí, gato escaldado, tento lavar melhor a alma à chegada aos Jogos. Londres, Rio, desta Paris.
Agora, a saída da manga é menos gloriosa. É só um postigo por lavar. Depois escada acima, em frente, escada abaixo. Não havendo mensagem liminar ou subliminar, o olhar cai sobre o vizinho da frente. O da foto.
Lembrei-me como eu e o Gonçalo Ventura, na Cerimónia de Abertura do Rio, fomos trucidados por uma dezena de indefectíveis angolanos porque a emissão da RTP estava em intervalo quando Angola desfilou para a glória.
Desta vez, ironia, são os meus "compagnons de route". Claro que meti conversa:
- Quantos são vocês na comitiva?
- 60 e tal - diz-me um elemento sem traje desportivo.
- Quem transmite os Jogos para Angola? A SuperSport? - Estou genuinamente curioso.
Ele diz-me que sim, mas um atleta de pagaia em punho acrescenta:
- A Zimbo. A Zimbo dá.
- Boa notícia! Desejo-vos sorte e saúde!
Respondeu-me com um sorriso rasgado.
Angola não é nossa mas é "dos nossos".
Bom augúrio. Alllez!! Allez vite!