Ataques esta semana na Alemanha relançam debate sobre punição e deportação de migrantes
A polícia alemã disparou este domingo, ao fim da manhã, em Hamburgo, quatro tiros contra um homem que ameaçou agentes com um machado e um dispositivo incendiário, à margem de uma parada de futebol de adeptos neerlandeses, que iam assistir na zona de fãs de Heiligengeistfeld ao jogo da sua seleção contra a Polónia.
Há relatos de que o grupo conhecido como Estado Islâmico, ou ISIS, estará a planear uma operação durante as quatro semanas que dura a competição.
Até agora, os incidentes foram considerados atos de lobos solitários ou motivados por racismo.
Ataques na sexta-feira
O incidente está a ser investigado por violação da paz, atentado à integridade física, incitamento ao ódio e abuso verbal. A idade dos atacantes está a preocupar as autoridades, com várias personalidades a frisarem que essa circunstância não deve impedi-los de serem julgados com a máxima severidade.
Na segunda-feira, uma mulher de 41 anos havia sido esfaqueada por um homem, numa rua da cidade de Frankfurt. A mulher seria ucraniana e o atacante um afegão de 19 anos, requerente de asilo, que foi detido e se encontra sob custódia.
A procuradoria de Frankfurt am Main acusou o adolescente de tentativa de assassínio e de atentado grave à integridade física.
Entre apelos para mão pesada oriundos de vários quadrantes políticos, especificamente para com o atacante adolescente de Frankfurt, Jens Spahn, vice-líder parlamentar do partido democrata cristão CDU, o principal da oposição, denunciou a crescente "violência" na Alemanha, ligando-a diretamente aos imigrantes.
"Os padrões infelizmente repetem-se. Uma vez mais, temos alguém que nunca devia ter sido autorizado a entrar neste país, ou não deveria ter sido autorizado a ficar, a cometer um crime grave e violento. A imigração irregular de países violentos só veio tornar o nosso país mais violento", afirmou aos microfones da aplicação informativa NZZ.
A ministra federal do Interior, Nascy Fraeser, veio, contudo, denunciar o ataque racista de Grevesmühlen na rede X, em solidariedade com as vítimas. "Chamar nomes racistas a crianças e ataca-las brutalmente é um sinal de ódio profundo e inumanidade inconcebível", escreveu.
A primeira-ministra do Estado alemão onde as crianças foram atacadas, Manuela Schwesig, condenou igualmente o sucedido no X. "A criança ferida tem oito anos de idade - a mesma da minha filha. Não podemos deixar o ódio e o discurso de ódio envenenar a nossa sociedade e a violência ameaçar as nossas crianças", sustentou.
Deportação na agenda
Spahn e outros deputados da CDU têm apelado o Governo alemão a deportar criminosos violentos, endurecendo a legislação atual. Outras organizações, como o grupo pró-migração Pro Asyl, defendem que os condenados destes crimes deviam cumprir a sua pena na Alemanha.
No início do mês, pressionada, Nancy Faeser, uma social-democrata, admitiu que a Alemanha pode vir a deportar para o Afeganistão os imigrantes afegãos que se revelem uma ameaça à segurança.
Tal decisão seria controversa, uma vez que o país não deporta pessoas que corram risco de vida nos países de origem. As deportações para o Afeganistão foram suspensas após os Taliban terem regressado ao poder em Cabul, em 2021.Os taliban já se mostraram disponíveis para negociar com o Governo alemão a deportação destes elementos violentos. Berlim tem contudo preferido conversar com as autoridades do Uzbequistão.
De acordo com Der Spiegel, este domingo, uma delegação do Ministério do Interior da Alemanha, visitou a capital uzbeque, Tashkent, em finais de maio, com aquele objetivo.
A publicação, que não cita fontes, refere que a delegação alemã propôs que os deportados da Alemanha desembarcassem em Tashkent, podendo ser depois transportados para Cabul pela companhia aérea KamAir.