Como era Portugal antes da liberdade? Era o mais antigo Estado-nação da Europa. O último império colonial. A mais longa ditadura da Europa ocidental. Um dos mais pobres. O mais analfabeto.
Era um país fechado, com a fronteira geográfica mais antiga da Europa, uma população homogénea, uma só língua e uma só religião. E também um só partido e um ditador há quarenta anos no poder.
Nos anos 1960, mais de um milhão de portugueses emigraram. Em África, três guerras exigiam os recursos financeiros do país e eram um fardo para a população em idade militar.
Nessa altura também, o país participou na fundação da EFTA, através da qual a economia se reorientou para a Europa. Foi a década de ouro da economia portuguesa, graças, em grande parte, à integração europeia, às novas indústrias, à emigração e ao turismo.
A doença de Salazar (1968) e a sua substituição por Marcelo Caetano deram sinais de mudança. Chegou a falar-se de "Primavera marcelista". As esperanças depressa desapareceram: a guerra no Ultramar era um nó cego a impedir a evolução política.
Como sempre, havia pressões sociais no sentido da democracia. Tradicionalmente ineficazes. E seriamente reprimidas. Mas, no início dos anos setenta, o cansaço da guerra, a falta de perspectivas, a incapacidade das autoridades políticas e a vontade de resolver o problema de várias gerações levaram uma grande parte dos militares a revoltar-se. Derrubaram o regime que nem sequer conseguiu defender-se.
